Por O Dia

Resolvi ajudar os conselheiros e técnicos dos Tribunais de Contas, do estado e municípios. Tô tentando somar os desfalques, compras superfaturadas, desvios de verbas, equipamentos inadequados adquiridos para não servirem para nada, principalmente para a doença do momento, e as verbas malcriadas pagas às Organizações Sociais (que nome pomposo e gozador) que deveriam cuidar dos hospitais - incluindo os de campanha, que viraram assombração - e que nem pagam os funcionários.

Convoquei, para ajudar nas contas, um dos meus netos postiços, o Cadu. Ele é jornalista mas, nas horas de folga e nas outras, também, faz trabalhos de contabilidade aqui para o avô, que ele chama de "voinho". Bem, ele escutou calado, de cabeça baixa e vociferou, um tempinho depois, entre os dentes que "vou ter que usar o supercomputador da Nasa".

Explicou que, como a maioria dos golpes, a partir de março, nessa fase pós-calamidade pública, é quase incalculável. São somente 92 municípios, fora o orçamento do estado. "E, ainda tem os juros", sacramentou meu contador particular. É, vai ser difícil, demorado e ainda terei que esperar que novos golpes sejam descobertos. Curioso, ainda tentei outra abordagem no assunto: qual o prejuízo nos nossos bolsos?

"Voinho, tá difícil de responder. Você já cuidou, hoje, do pomar, das flores, já varreu o quintal? Quando varre o quintal, você tem ideia de quantas folhas caíram das árvores em 24 horas? Ou, em 12?". Acho que o netinho tá querendo me gozar. Ou me enrolar. Ou mostrar que é complicado certos cálculos.

Mas não me dei por vencido: tem como calcular quantos espertinhos estão envolvidos nos golpes da era da pandemia? Ele riu, deu gargalhada, sorveu mais um gole de cerveja - tava de folga nesse dia - olhou para o céu e, com bigode de espuma mandou essa: "em números, devem ser mais ou menos a metade da torcida do Flamengo", explicou o número alto: "dei exemplo do Flamengo para mostrar o alto índice de espertinhos. Nada a ver com o clube e nem com a torcida. É que tem os envolvidos diretamente, tem os indiretos, tem os asseclas, tem os que são beneficiários indiretos (amigos, vizinhos, familiares), tem os que ficam calados e tem os que fingem que nada sabem (mas sabem). Todos estão no mesmo crime. Entendeu?"

Fiquei trêmulo e pasmo. E ainda não descobriram todos os golpes! Será que viverei para saber quanto garfaram do meu bolso, somente nesses poucos meses? Ih, lá vem outro cálculo... E nem cheguei a pensar nos últimos "ganhos fáceis", os escândalos da Petrobras, ou da Era Cabral/Pezão. Desconjuro! 

Mas, lembrei de outro caso, fenomenal e tristemente famoso por essas bandas que me faz quase rir. Lembram do deputado João Alves de Almeida? Alagoano de berço, mas com base eleitoral na Bahia, foi eleito em 1963 e ficou até 1994, quando renunciou ao mandato para não ter os direitos políticos cassados. Esse senhor, segundo sua defesa na Comissão de Ética da Câmara, ficou rico depois de ganhar na Loteria "por mais de 200 vezes". Eita nordestino porreta de sortudo. Perdeu o mandato mas não perdeu a fortuna "que ganhei honestamente com a ajuda de Deus". Mas, sabem de uma coisa? Como vocês verão, sou homem que obedece aos mais novos. Então, vou seguir o conselho do netinho-contador:

"Voinho, esse negócio de calcular o montante de grana perdida nos trambiques é complicado. Na cadeia, podes crer, só tem 'inocentes'. A vida é complicada e você pode acabar com o CPF enrolado. Continue a contar... histórias. É quase mais seguro".

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