Por Luarlindo Ernesto
A época, pelo levantamento que consegui fazer, para matar o tempo durante esse período de clausura , é de reflexão. Então, comecei a catalogar algumas manias que desenvolvemos ao longo dos dias de isolamento (?) sanitário quase obrigatório. Passei a ter olhar crítico, sem me meter na vida alheia, nas maneiras, manias e hábitos dos vizinhos. Nem precisei usar binóculos ou telescópio. Calma, gente. Vou falar das minhas manias, também. Vamos em frente.
O vizinho do Norte, de nariz empinado, pouco se socializa. Pode ser porque seja novo no pedaço. De início, lancei um cumprimento e ele não respondeu. Botei a viola no saco e o ignorei, a partir de então, sua presença na área. Mas escutei falar, por outros moradores, que o cara é muito fechado e metido a besta. Será porque o cara é de poucas falas e, por isso, considerado besta? Deixa ele em paz... Cá entre nos: ele tem pinta de que tá envolvido em lavagem de dinheiro.
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Vamos ao do Bombordo, o recém viúvo da pandemia. Flamenguista doente, festeiro de berço, classificado como de alto risco devido a idade, obriga os vizinhos a escutarem os sambas que curte em alto volume, mesmo nas madrugadas. Está em casa desde março devido as normas sanitárias e adora aparecer nas redes sociais. Bebe cinco cervejas diariamente. Já confessou que gostaria de beber mais: "A aposentadoria é curta e tenho que dosar a cerveja", se desculpa. Por ele, havia churrascada diariamente no quintal. Trabalhava em padaria do bairro, como bico, para reforçar o orçamento.. 
O vizinho de Estibordo, poucos anos mais novo do que eu, não saí de casa desde março. Mas, para quem não tem relógio, pode usar sua mania como referência de tempo. Diariamente, sob sol ou chuva, retira o carro da garagem para faxina geral.: 9 horas, em ponto. Podem conferir. Tem casal de cães que ele batizou, carinhosamente, de Papai e Mamãe. Os animais são mais velhos do que eu. O cidadão não bebe e não fuma...É de falar pouco mas, quando abre a boca, só sai palavrão...
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Evito encontrar o cara e, quando é inevitável, finjo que estou usando o celular. E falo com alguém que não existe do outro lado da linha, para tentar convencer a todos que estou em um problema sério e não gostaria de ser interrompido. Tem dado certo meu esquema. Imagino o que o cidadão pensa de mim. Já notei que ele é doido para puxar conversa. Mas, tenho conseguido evitar.
Um outro vizinho, de Noroeste, que mudou para cá em setembro, parece que é surdo e mudo. O do Sul, na verdade são os dois vizinhos-amigos, que já apresentei a vocês em outras ocasiões. Fred, o Suíço, e Ibiapina, o mais recente aposentado do Principado da Água Santa. Com esses eu fico tranquilo. Afinal, amigos não têm manias. Amigos têm hábitos, ou hobbies... Entenderam ? Ah, não são rabugentos, não falam mentiras e palavrões, são educados e bebem socialmente.
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Ibiapina não fuma e coleciona fotos e imagens do Rio Antigo. Fred, vez por outra curte um "Puro" - charuto cubano e gosta de trabalhar na madeira, inventando coisas para casa. Ele tem, na garagem um Fiat Uno modelo 1998 com seis mil quilômetros rodados. O carro tá novinho. Uma vez por semana, recebe golpes de espanador para retirar a poeira...
Eu nunca vi os amigos pedirem fiado. No comércio local. E nem falam sozinhos. Ambos não precisam do INSS e não usam o aplicativo Caixa Tem... Eu ? Bem, falo e discuto sozinho, tenho a triste mania de ficar atento aos vizinhos, tenho dia certo para varrer as folhas do quintal (isso não é hábito. É imposição da família), detesto limpar o carro, detesto ganhar presentes mas gosto de presentear... Prefiro certos "vizinhos", tipo Cadu ou Marlos, que moram em Niterói. Nunca escutei eles gritarem ou falarem mal dos outros moradores...