Por Luarlindo Ernesto
Badalada nos últimos dias, tanto em programas de emissoras de televisão, quanto em propagandas políticas do TRE do Rio, a Avenida Brasil, essa jovem senhora de 74 anos, é falada, ou lembrada, mal ou bem, diariamente por todos nós. Podem verificar: aponte alguém que não tem uma historinha para contar sobre a falada via. Eu, tenho várias De boas ou péssimas lembranças. Desde a época do Sabão Português, ou mesmo do Aeroclube do Brasil, ou da Colônia de Pesca de Ramos. As primeiras palafitas entre Bonsucesso e Penha. E o nosso orgulho: a Fiocruz.
A Brasil nasceu em 1946. Eu, 1943. E éramos vizinhos bem próximos, porque eu vivia no bairro de São Cristóvão e a rua onde morava terminava nela, ali no antigo Gasômetro. Não existia a Rodoviária Novo Rio. No local, um enorme quartel do Corpo de Bombeiros. Engarrafamentos praticamente são parte da via. Roubos e mortes, também. Mas, já tem uns bons anos que aguardo a mais recente melhoria, prometida, iniciada e difícil de ficar pronta Transbrasil. Se vai melhorar o tráfego, ou a mobilidade ou a segurança, não sei.

Mas, lembrei da jovem senhora porque, de tanta badalação de ultimamente, não poderia deixar de contar uma manobra perigosa que pratiquei, noite chuvosa de um sábado, em mês que não recordo de 1972. A RJ 071, para quem não sabe, apelidada de Linha Vermelha, não existia de fato. Só no papel. Então, vindo de uma reunião social-festiva-quase amorosa no Beco da Fome, em Copacabana, cheguei na Avenida Brasil, pista lateral, rumo à Ilha do Governador, bairro onde minha ilustre namorada do momento habitava.
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Eis que, bem em frente à Nova Holanda, um pneu do Fusca furou. Acabou a alegria. Pouco movimento, em local estranho, sem um conhecido. Coçando a cabeça, não sabia o que fazer. A acompanhante, nervosa, começou a chorar. Céus! O que fazer ? Ignorei a choradeira, entrei no carro e parti para dentro da comunidade, com o carro sacolejando devido ao dano no pneu. Percorri uns cem metros e parei diante de três homens armados, com pistolas apontando para nós. A namorada estava desmaiando e eu tentando dialogar com os "rapazes".
"Amigos, por favor, me socorram. Só vocês para me ajudarem". E fui vomitando as frases que vinham na mente e na boca. "O pneu furou e fiquei com medo de ser assaltado ali, na pista da Brasil".
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E fui desembarcando e puxando a namorada para fora do carro. Os caras ficaram confusos com o pedido inusitado de ajuda de um estranho em plena boca de fumo. Relaxaram os nervos, abaixaram as armas e resolveram me escutar. Contei, com mil detalhes e, logo um dos "guardas" foi incumbido de acordar o borracheiro de uma lojinha na comunidade.
A partir de então, abusei da sorte ou lá o que fosse: "Podem conseguir água com açúcar para a moça nervosa?" Os dois guardas do ponto de drogas gritaram o nome de uma moradora, vizinha à cena dantesca. Logo a jovem estava bebendo a água. O borracheiro apareceu, trocou o pneu, consertou o que estava furado, paguei a despesa, abracei e agradeci a boa acolhida e parti feroz. A namorada, a Oldairche, depois dessa aventura, me deu cartão vermelho. Nunca mais soube dela. Mas, a Avenida Brasil, vejo diariamente, pela televisão.
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