Por O Dia

Tenho um vizinho, o de bombordo, que está neurastênico com a doença que assola o país. O cara reclamou porque eu estava varrendo o quintal! "Essa poeira que vem do seu terreno, quando a vassoura espalha folhas e terra, pode estar contaminada com o vírus. E vem para o meu quintal!". Homessa, levei um susto com a teoria da conspiração (ou seria teoria da contaminação?). Parei para tentar refletir. Bolas, e o ar que ele expele quando respira? O vento pode trazer os micro-organismos para o meu quintal. Os passarinhos que pousam na casa dele e que vêm para as minhas frutíferas, podem disseminar vírus aqui, pro meu lado. Bem, parei de varrer. E se eu usar a lavadora de pressão? Provavelmente, o vírus morrerá afogado. Ou não? Caramba, eu vi a mulher do vizinho comprando pão e verduras no ambulante (mascate?), o vendedor que passa aqui na rua. Será que a família passa álcool no pão e na alface? Ou nos ovos? E quando ele vai ao banco pegar a grana da aposentadoria? Desinfeta as notas antes de guardá-las no bolso? Céus, lembrei dos mosquitos — os da casa dele, claro — podem trazer o corona pro meu lado do terreno. O vento que é sempre constante aqui, no alto da montanha onde está a minha caverna, vem da direção da casa do vizinho. Então, botei o vento no rol dos suspeitos, também. Tá complicado esse negócio de isolamento social. Nunca será perfeito.

Mas parei a varrição. Vou deixar o quintal sujo de folhas provisoriamente. Tenho que bolar um plano de isolar o vizinho no meu esquema de sobrevivência. Corri para o computador, pedi socorro ao Google: barreiras físicas de isolamento para evitar propagação e contaminação do vírus Covid-19, em residências... Caramba. Que lista enorme. Vou gastar o 13º e ainda ficarei devendo dinheiro. Mas gostei de uma das opções: ela é baseada no uso da máscara facial. É somente envolver minha casa, e o quintal, com um tecido de algodão. Uma "camisinha" gigante, digamos assim, para melhor entender. As árvores serão cobertas no mesmo pacote sanitário. A alimentação dos pássaros que vêm se banquetear do meu lado, vão se contentar com milho picado que deixarei sobre a calçada. Isolarei, temporariamente, o portão de pedestres e usarei, somente, o da garagem. Mas, do lado interno, instalarei sistema de borrifar álcool na atmosfera, o suficiente para atingir a altura do teto do carro, ou até a cabeça de algum humano que adentrar na propriedade. Tudo administrado por sistema de alarme, super estridente, e câmeras de vigilância com visão noturna, naturalmente. O muro fronteiriço, que já tem dois metros e cinquenta centímetros de altura, será elevado em mais uns dois metros e contará com moderníssimo invento: manterá toda a extensão umedecida com agrotóxico. Confesso que essa ideia do muro, esse aqui da minha casa, me inspirei no quase ex-presidente Trump.

O quintal, amigas e amigos, continua cheio de folhas. Tô providenciando as inovações de isolamento aqui na caverna da Água Santa. Ah, já consegui melhorar o sinal da internet porque mudei de operadora. Graças ao meu mais recente amigo de infância, o Ronaldo Soares. Tá bem mais veloz. Enquanto isso, aguardo respostas das nossas autoridades sanitárias e da Anvisa. Não quero burlar ou ferir nenhuma regra da Prefeitura, ou dos governos estadual e federal. Ah, tô usando máscara de mergulho, snorkel para os íntimos, muito eficiente. No cano do respirador, tem algodão do Tennessee, embebido em Bourbon, do Kentucky. Sacaram a estratégia? Para quem não sabe, é fácil achar no Google.

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