O amigo, o de boreste, descobriu como a esposa conseguia descontos nas compras de medicamentos em drogarias. E, extasiado, ficou doido para contar a novidade ao grupo dos coroas, aqui do bairro. Chegou correndo diante da porteira. Vi as imagens pelas câmeras. Ele olhou para os lados, para o quintal, acho que até para o alto. Ninguém a vista.
Da varanda coberta, pronto para socorrer o cidadão, gritei: "Tô na área. Tá aflito? Quer ajuda?". Parece que minha voz o acalmou. Ajustou os óculos e notei que ele me viu. E gritou sorrindo: "Poxa, até que enfim encontrei alguém para contar uma coisa!". Pensei, quase alto (quer dizer, falando sozinho), isso vai render e em instantes vai juntar o coletivo... Caramba, não é que apareceram os vizinhos, talvez alertados pelos gritos do amigo? Pronto acabou a solidão!
Eu estava comendo uns generosos pedaços de bolo de aipim, com café fresquinho, quando fui interrompido. Cobri o tabuleiro e parti para socorrer o companheiro. Chegamos aos oito bilhões de habitantes neste mundo redondo. Será que grande parte vai aparecer hoje, aqui na Água Santa? Tirei o cadeado da porteira e a rapaziada (?) começou a entrar.
Contei uns cinco, iniciais. Desisti de contar logo em seguida. Voltei para a varanda - tava começando a chover - e ofereci o lanche. Nem farelos sobraram. E esqueceram o café! Quase quebraram o vidro da mesinha de ferro trabalhado. Conhecem essas mesinhas antigas, de varandas? As de plásticos, cruzes, não existiam. Só as de ferro ou madeira.
E o assunto importante do vizinho? Até o próprio esqueceu. Foi preciso Adilsinho lembrar. "Já acabamos com o bolo e não sabemos o que foi descoberto", disse em tom de cobrança. O tom de voz, sério, fez o grupo voltar a tal reunião de emergência. E todos olharam em direção do homem de boreste.
Limpando os cantos da boca, o vizinho puxou um pigarro e foi em frente: "Pois é, senhores". Em tom solene, foi em frente: "Descobri que as drogarias dão descontos para clientes que se cadastrem". Silêncio geral. Só dava para escutar a chuva fina que caía no quintal. Nelson já estava nervoso, Fred já havia mastigado a ponteira da cigarrilha que saboreava. E o cara enrolava para mostrar o que poderia ser feito.
E, enfim, o amigo desembuchou: "Vamos fazer cadastros nos bares que frequentamos". E explicou: "Igual nas drogarias. Então, teremos descontos", finalizou. Ih, virou discussão.
Gordinho, ex-dono de bar, foi o primeiro a falar: "Duvido que consiga isso". E explicou: "Tá pensando que dono de bar vai topar? Melhor comprar xarope na drogaria, com desconto, para beber acompanhando as sardinhas fritas". Caramba, acabou a reunião.
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