Tava a toa na vida, claro, domingo de folga, fui até a Feira dos Oprimidos. Não sabem onde fica? Alí, do lado da Rua Bela, sob a Linha Vermelha. Tem de um tudo e mais alguma coisa. Se os amigos cismaram de ir até lá, não se espantem com o que podem encontrar. É coisa de espantar.
Tem dentadura usada - conhecida em alguns pontos do Nordeste como cremalheira ou chapa - urinol de alumínio, perucas, roupas usadas e novas, calçados novos e usados, garrafada para ajudar na performance sexual - os vendedores juram que os produtos são mais eficazes que um certo comprimido azul - móveis para sala quarto, banheiro e cozinha, lustres, computadores usados, pneus para bicicletas, motocicletas, automóveis novos e usados, e quinquilharias para decoração. Já encontrei com antiquários por lá.
Discretos, ficam garimpando peças como ferro de passar maxambomba (a carvão), fogareiros antigos, vestimentas de vaqueiros nordestinos, molduras de quadros, aparelhos telefônicos de disco e de manivela. E ferramentas, manuais e elétricas. Novas e usadas. Cadeiras de dentistas, de barbeiros, de salão de beleza, barraquinhas com livros antigos, revistas Playboy, Manchete, do Rádio, Sétimo Céu e outras que nunca ouvi falar ou manusear. Quase esqueço as unhas postiças.
Quem aprecia pimenta, de tipos e cores variadas, vai se fartar. Pilhas de filmes em videocassete, DVDs, CDs, discos 78 rotações e LPs. Lembram do feijão pintado de verde?
Lá tem o verdadeiro, o de corda. Tá meio caro. Para quem gosta e tem algum dinheirinho sobrando... Ah, as favas, apreciadas no Norte/Nordeste, com o preço puxado para o meu bolso. Dá para levar meio quilo. Fica faltando a carne de sol. Tem, também.
A barraquinha dos pastéis e caldo de cana fica pertinho a da que vende uma cachacinha arretada. Para quem gosta do som alto de forró, vai se divertir.
Ah, tem geladeiras e freezers de segunda mão. Esqueci das máquinas de costuras. Acho que tá parecendo comercial. Um amigo, o Antônio - é Marido de Aluguel lá em Angra dos Reis - ficou maravilhado com as ferramentas que encontrou. Eu levei ele em um domingo, em setembro, quando veio de visita ao Rio. Comprou bastante.
"Ô Luar, achei os preços convidativos", disse baixinho enquanto examinava uma caixa com serras e brocas. "Vou voltar com mais calma e com mais verba", explicou sorrindo. E, eu avisei que, nesta feira, é necessário pechinchar. Ele seguiu minha dica. Mas, durante um lanche, na saída, foi mais além: "Isso aqui é um paraíso para quem tem loja de Brechó. E continuou: "Lá em Angra, tudo é mais caro. Até os camelôs vendem com preços na Bandeira Dois", lamentou.
Neste mesmo domingo, o amigo foi mais além: "Ô Luar, já que estamos na rua, você me levar até um supermercado aqui no subúrbio?". E logo explicou: "A vida por lá (Angra), tá muito cara. Tem gente alugando vans para fazer compras de comida em Santa Cruz ou Campo Grande. Dividem o aluguel da kombi, até sete pessoas, e ainda sai mais em conta", justificou.
Antônio me contou que até o preço do pescado está proibitivo. "Melhor comprar peixe fresco, bem mais barato, em Mangaratiba. Acredita ?", disse. Claro, me convenceu. O amigo, para vir ao Rio, usando ônibus como transporte, pagou pouco mais de R$ 100, ida e volta. Foi para casa com as compras do mês, feliz da vida.
Um exemplo que ele contou: "O pacote com carne seca ponta de agulha, lá, custa R$ 40. Aqui, paguei pouco menos de R$ 30". Eu o deixei na Rodoviária Novo Rio. Na despedida, ainda brincou: "Hoje, não sou o marido de aluguel. Sou o titular".
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