Mais três vizinhos perderam o emprego. Situação triste. Enquanto isso, sem o Secos e Molhados do Gordinho, a área estava ficando deserta. E, outro morador resolveu o problema: abriu um comércio parecido com o que fechou. Já temos um local democrático para chorar as mágoas. Eu fui ver de perto, para conferir.
Diante de tantos dramas, cheguei logo me apresentando e fiz o primeiro pedido: "Por favor, me prepare um Rivotril, com gelo. Ah, batido, não mexido". O comerciante chegou a abrir a boca para falar qualquer coisa. Olhou meio desconcertado. Aproveitei para acalmá-lo: "É gin com tônica". E conclui: "Tem tira-gosto?".
O sorriso mostrou que estava tudo sob controle. Chamou a patroa e perguntou se os pastéis estavam prontos. "Camarão ou queijo?". Resolvi o problema: "Um de cada, por favor".
Quem se deu bem foi o Júlio. O comércio é em frente à casa dele. Basta atravessar a rua para cair no alçapão. Fred e Ibiapina têm que andar muito. Eu, a metade do trajeto deles dois. Parece que vale o sacrifício. Os amigos já haviam testado o novo barzinho. Eu, não.
Dei uma ideia, para ser apresentada em plenário dos coroas: qual será o nome do novo antro familiar? Já enviei, por escrito, o meu preferido: Oásis. "O que os amigos acham? Afinal, é o próprio oásis no deserto aqui na redondeza. Não sei se vai colar".
Enquanto isso, o comerciante vai aprendendo as manhas dos clientes. Eu, por exemplo, gosto do Rivotril, com gelo, usando pequeníssima dose de gin. Só para perfumar. Fred fica somente na cerveja. Júlio e Ibiapina, também. Adilsinho prefere uma mistura secreta e que não informa a receita. E, por aí em diante. Cada um no seu cada um. Entenderam?
Mas sempre bate uma saudade dos salgadinhos do Gordinho. Então, resolvi dar um palpite. Que tal os nacos de carne seca milanesa ? Uma delícia. Concordo que é meio cara, devido ao preço do produto. Bem, esquecendo o preço, inegável o sucesso do tira-gosto. Ah, para substituir, vale inventar: que tal torresmo a milanesa ? Guerra é guerra ! Vou até fazer em casa.
Por falar nisso, vou sair de fininho e voltar para a caverna. Preciso preparar uma história para a próxima semana. O período é complicado. Estamos chegando no dia da votação de segundo turno. Não falta o que fazer.
Já está no horário das maritacas aparecerem para o jantar. São quase 17 horas. Não vou ficar no quintal. Posso ser atingido pelo bombardeio das barulhentas e belas aves. Já deixei o Golzinho do vovô protegido. A ideia do torresmo não saí da cabeça. O que não vai combinar é o refresco de groselha. O Fred está fazendo experiências para retirar o excesso de açúcar da bebida. Enquanto isso, vai adocicado. Ou, então, chá de cidreira, gelado. Nada de refrigerantes industrializados.
Não reparem, mas dá vontade de rir quando lembro da patroa que bebe café, temperado com adoçante e, após as refeições, encara um generoso pedaço de torta de chocolate ou mesmo mil folhas, do Bar do Alemão.
Já quase 18 horas, estava saindo do banho quando Fred telefonou. Foi neste momento que ele soube dos vizinhos que ficaram desempregados. E foi logo intimando: "Ô Luar, amanhã vamos levar os três no barzinho", decretou com seu sotaque e mostrando preocupação. "Precisamos ver quem pode ajudar para recolocar eles em algum trabalho". Claro que concordei. Não resisti à pergunta: "Vamos pagar umas cervejas para eles?" E justifiquei: "Devem estar preocupados e sedentos". Fred riu e respondeu: "Você paga as primeiras e eu, as últimas".
Pronto, tá inaugurado o Serviço de Atendimento ao Vizinho Desempregado e Sedento no novo bar da Água Santa.
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