Yuri Maia, engenheiro ambiental e Coordenador de Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais da Fundação Ceperj Antonio Kämpffe
"É preciso trabalhar os riscos e não enxugar gelo", diz coordenador de estudo sobre enchentes
A coluna entrevista o coordenador de Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais da Fundação Ceperj, Yuri Maia
O engenheiro ambiental e Coordenador de Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais da Fundação Ceperj Yuri Maia é o organizador do e-book "InundAção", coletânea lançada pelo órgão, em dezembro, reunindo dados dos efeitos das enchentes fluminenses e diretrizes com o objetivo de servir de guia para a formulação de políticas públicas pelos gestores. A O DIA, Maia explica que a obra terá mais fases, mais práticas, com idas a campo e estudo de casos: "já em 2022, nossa intenção é partir para algo mais concreto, ajudando municípios carentes na área de captação de recursos e criação de dispositivos de prevenção", diz.
O DIA: Como nasceu o projeto do "InundAção"?
YURI: Notamos que não havia um só lugar que reunisse dados sobre as enchentes, e nunca tinha sido feito um cálculo dos prejuízos causados. Pegamos o período entre 2015 a 2020, para apresentar de forma mais transparente à população números sobre desastres. Em 2020, o impacto foi de R$1 bilhão, o que poderia ser evitado se houvesse planejamento.
Como fazer para que tragédias como a de 2011, na Região Serrana, não se repitam? Há alguma conclusão sobre as ações tomadas para prevenção
A gente fez um compilado, com uma literatura já existente, mencionamos esse desastre. Mas o deslizamento de terra em si não foi abordado nessa fase inicial do estudo. Queremos fazer isso nas próximas etapas, já em 2022. Por ora, focamos em construir uma base de dados para um monitoramento de estatísticas, orientando na formulação de políticas públicas.
Quais os maiores desafios do estado, de acordo com as regiões?
Os municípios com mais recursos podem estar mais avançados. A capital conta com uma sala de controle da própria prefeitura, o COR, mas enfrenta problemas próprios causados pela desigualdade. Em Campo Grande, na Zona Oeste, além dos desafios do próprio relevo da região, há problemas de de bueiros e canos entupidos. Já na Baixada Fluminense, a ocupação irregular, com a falta de coleta de esgoto, formam um fenômeno mais completo. As inundações têm muitas causas possíveis. Uma região que precisa de atenção imediata é a Serrana. O plano estadual deve dar prioridade aos municípios com o maior número de eventos.
O senhor falou em diferentes causas para as inundações. Poderia citar algumas?
Problemas como falta de urbanização, de monitoramento, crescimento desordenado ou deficiência no tratamento de resíduos. É preciso criar uma cultura para tratar o tema. Queremos abrir chamada pública para pesquisadores e empresas, e teremos um laboratório para realizar pesquisas em diferentes áreas. Já em 2022, nossa intenção é partir para algo mais concreto, ajudando municípios carentes na área de captação de recursos e criação de dispositivos de prevenção.
O e-book foi lançado uma semana antes do início do verão. Foi intencional?
Sim. Achamos oportuno divulgar o resultado do estudo nessa época do ano, para despertar mais interesse da população em entender o fenômeno das enchentes, e consequências, como doenças, além do trabalho dos gestores públicos.
Quais os próximos passos?
Estamos aguardando o orçamento para entrarmos na fase 2 do projeto, mais complexa. Iremos fazer estudo de casos, além de mapear regiões prioritárias e estudar o que acontece com os rios. Queremos desenvolver uma tecnologia, com a Defesa Civil, para proteger moradores de locais com maior incidência de deslizamento de terra. A ideia é aproximar o relacionamento com os municípios.
Como o poder público pode agir, a curto e longo prazo, para minimizar os efeitos de temporais na cidade e evitar perdas futuras?
É preciso trabalhar os riscos e não enxugar gelo — agir só quando o problema acontece. O poder público precisa criar um banco de dados para formular um plano. O grande problema é que falta conversa entre os órgãos. O Inea não se comunica com a Defesa Civil. Os pesquisadores estão nas faculdades, mas é preciso deixar o assunto mais acessível. A população precisa entender o que acontece.
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