O premiado cineasta Adirley Queirós é o entrevistado da semana no Informe do DiaAcervo Pessoal

Cineasta formado pela Universidade de Brasília, Adirley Queirós dirigiu "Branco sai preto fica (2014)", que será exibido nos dias 18 e 28, na Mostra Ecos de 1922 — Modernismo no Cinema Brasileiro, no CCBB. O diretor é o único do Distrito Federal que conquistou a dobradinha de melhor filme e diretor em casa, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Ele coleciona vitórias também em outras mostras, como o Festival de Tiradentes e o Festival Internacional de Mar del Plata na Argentina. Em entrevista a O DIA, Queirós fala como o país e o mundo enxergam o cinema de periferia: "temos o potencial revolucionário político, estético e cultural, abafado pela institucionalização do Estado", destaca.
O DIA: O filme "Branco sai, preto fica" já tem mais de 8 anos. O que mudou desde então?
ADIRLEY: As inquietações são as mesmas, mas eu diria que, em termos da questão territorial/racial, ficou pior. Não posso falar da questão racial, pois sou branco. Mas sempre vivi na Ceilândia, uma cidade que já nasceu com o estereótipo de invasão. O território ficou mais oprimido e fragmentado. Historicamente, o Estado vê a periferia de forma populista, agindo para amansar as pessoas, para que elas recebam os editais como se fossem favores.
Como você, parte do cinema independente, vem encarando a crise do setor audiovisual?
O cinema independente é muito mais afetado pelo Estado e pelo mercado, já que ele não abre espaço para as produções periféricas. São as políticas públicas que permitem a existência do cinema independente – que, por sua vez, alimenta a evolução da linguagem.
Como o senhor avalia as recentes políticas na área cultural?
O cinema tem uma política própria, da Ancine – é uma luta histórica. Um filme como "Branco sai, preto fica" não seria produzido pelo mercado. Historicamente, o nosso tipo de proposta não tem espaço no mainstream A Ancine precisa fazer políticas públicas, como acontece no mundo. Eventualmente pode até haver mecenas, mas são exceções.
Seu novo filme "Mato seco em chamas" participa de vários festivais. Como o cinema brasileiro é visto no mundo?
A imagem do Brasil está desgastada lá fora. E, se por um lado, faltam incentivos públicos, por outro, justamente quem faz a diplomacia da cultura brasileira no exterior é o cinema independente, com baixo orçamento. São esses filmes que circulam nos festivais, onde as pessoas podem discutir o que não é abordado na grande mídia. Temos o potencial revolucionário político, estético e cultural, que é abafado pela institucionalização do Estado. A periferia é muito mais enfrentamento do que inclusão.
Hoje, na sua visão, o cinema brasileiro ganhou ou perdeu protagonismo?
O cinema nunca foi tão rico em produção. Do Amazonas ao Nordeste, sempre há um cineasta fazendo algo potente. A produção aumentou por conta das universidades fora do eixo RJ-SP-RS-MG, e é uma geração boa. Também há mais gente ansiosa para ver o cinema. Mas de outro lado, há uma política que quer transformar esse lugar da criação numa rede de emprego.
Como o senhor enxerga a ação do streaming?
Plataformas de streaming atuam de forma violenta – só compram os filmes depois que eles tiverem repercussão, sucesso nos festivais. Elas não apoiam as produções na base, que é que importa. Além disso, falta transparência nas escolhas, na divulgação de dados. Até hoje, por exemplo, não sabemos se o streaming dá lucro ou prejuízo. Então, não acredito que haja democratização por esse meio de circulação da cultura.
Quais são os seus planos futuros?
Não existe plano futuro no cinema brasileiro, só o presente, já que política de cinema foi desmontada. Temos que lutar pela manutenção. Nossos filmes, por exemplo, são muito pequenos, uma produção com cerca de quatro pessoas. É um modelo muito diferente do que o mercado colocou como regra. E como fazer cinema independente com 150 pessoas no set? Precisamos discutir o modelo de produção – o reflexo de todo filme. Espero que as salas de cinema resistam, não gosto de ver filmes na internet.
 
 
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