O fundador do Perifalab, Paulo LoiolaDivulgação

Com o propósito de impulsionar a entrada de líderes do campo progressista na política institucional, Paulo Loiola criou o PerifaLab com Arthur Sampaio. O projeto, inspirado em movimentos como a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), está trabalhando com sua primeira turma. Por meio de encontros online, 50 pessoas já com algum tipo de atuação e background político recebem uma formação técnica que vai de estratégias de planejamento e de comunicação a outros pontos estruturantes de uma campanha. "Se você tem as mesmas pessoas, com os mesmos pontos de vista, discutindo algo, há parcelas sub representadas", diz ele.
O DIA: Como surgiu o Perifalab?
PAULO: A ideia veio a partir da união de duas pessoas. Eu particularmente sentia falta de um movimento que preparasse o campo ideológico mais à esquerda, focando em candidatos periféricos, com capacidade de transformação do debate público. São vozes que, até então, não vinham sendo ouvidas. E o Arthur Sampaio trouxe a proposta organizar o campo da negritude para atuar dentro da política institucional.
Esse tipo de formação é muitas vezes criticada por atuar como "um partido dentro dos partidos". Qual o seu posicionamento?
Me parece que essa crítica até pode ser utilizada como uma forma de os partidos manterem o controle sobre a nominata — ou seja, o discurso. É uma tese ultrapassada. As pessoas estão conectadas o tempo inteiro atualmente. É inviável querer impedir o diálogo com campos distintos. Vejo mais como um recurso contra atores específicos.
Qual é a sua visão sobre a função institucional dos partidos?
Quero deixar muito nítido que os partidos devem ser fortalecidos, pois são guardiões da democracia. Mas são compostos por pessoas, logo são imperfeitos. Como fazemos parte de uma sociedade hiperconectada, ir contra um movimento que faz a pessoa ter um diálogo que não poderia ser alcançado de outra forma é ignorar a tendência da comunicação moderna. Além disso, a teoria clássica da Administração já fala da tendência da autorreplicação: estruturas consolidadas costumam dar mais espaço a quem já estava lá antes — e isso também se replica nos partidos. A governança dá pouco espaço a quem está na base. Nossa ideia no Perifa é acelerar figuras que precisam aparecer.
Como é ser um homem branco e do asfalto fazendo um trabalho com foco na periferia?
É importante dizer: o CEO é um homem negro. Hoje não estou mais na periferia, mas vim de lá. Sou filho de imigrantes nordestinos e nasci no Camorim, que era quase rural há 40 anos. Obviamente, tenho vários privilégios por ser homem e branco. Por reconhecer esses privilégios, entendo que preciso fazer a minha parte para diminuir a desigualdade. Sou um burocrata do processo, um administrador, com mestrado na Administração Pública. O que entrego é método. Sei que não vou ensinar nada sobre feminismo às mulheres, por exemplo.
Existem outros movimentos com os quais vocês dialogam?
Buscamos diálogo com quem tem menos representação, como mulheres, negros e LGBTQIA+, mas me parece que os movimentos feministas estão mais organizados. Alguns exemplos são o Todaz e o Tenda das Candidatas. Também temos o Raps, que trata de democracia e de pautas ambientais. Esses temas dialogam com as nossas preocupações, principalmente porque os pobres são os mais impactados pelas mudanças climáticas.
Há espaço no Perifa para quem se identifica como conservador?
Não entendo que o lugar dessa pessoa seja no Perifa: o conservadorismo já está no poder hoje e tem sua própria rede. E, assim como elas não teriam espaço conosco, progressistas não terão espaço em outros programas. Faz parte do jogo democrático.
Qual a importância de ter mais vozes periféricas dentro da política institucional?
Entendo que diversidade é um valor da democracia. Se você tem as mesmas pessoas, com os mesmos pontos de vista, discutindo algo, há parcelas sub representadas. Buscamos dar ferramentas para amplificar essas vozes, assim, ampliar a participação social em seus respectivos locais, normalmente relegados apenas ao voto.
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