Márcio Ayer, Presidente do Sindicato dos ComerciáriosDivulgação

Presidente do Sindicato dos Comerciários, Márcio Ayer está à frente de 300 mil trabalhadores. A entidade atua na capital fluminense, em Miguel Pereira e Paty do Alferes, e seus representados atuam em 26 segmentos diferentes, que vão desde o atacado e varejo de gêneros alimentícios, passando por materiais de construção, e comércio de joias, entre outros. Em entrevista a O DIA, Ayer fala sobre os desafios enfrentados pela classe na pandemia e na atual crise econômica, além de esclarecer as negociações com diferentes setores: "Temos avançado bastante com a Fecomércio, por exemplo, mas por outro lado as negociações com lojistas são as mais emperradas".
O DIA: Os comerciários passaram recentemente por uma queda de braço com os patrões. Qual é o resultado final da negociação?
MÁRCIO AYER: Conseguimos aprovar para os trabalhadores de mercados e hortifrutis (gênero alimentício) o aumento negociado pelo sindicato, de 12,5% e um abono de R$ 800. Como as nossas bases são segmentadas, negociamos com 26 sindicatos patronais. Temos avançado bastante com a Fecomércio, por exemplo, mas por outro lado as negociações com lojistas — representados pelo Sindilojas — são as mais emperradas. Eles fizeram uma proposta bem abaixo da inflação do período, além de defenderem o trabalho em 1º de janeiro e na terça-feira de carnaval, e de não renovarem a convenção de trabalho aos domingos.
Como solucionar esse processo engessado?
Vamos manter a campanha na rua e mobilizar os trabalhadores. A nova rodada de negociações acontece nesta semana, tanto para tentar tirar esses retrocessos da mesa, como para compensar a inflação. Compreendemos que esse setor foi o mais afetado pela pandemia, porque precisou fechar durante um período. Mas já estamos acompanhando uma retomada do ponto de vista econômico e de contratações. Também é importante botar dinheiro no bolso do trabalhador, para fazer a economia girar.
Qual é o aprendizado que fica após a pandemia?
Infelizmente, temos um conjunto de empresariado que não compreende as condições que precisamos para manter a segurança no ambiente de trabalho, e nem mesmo a necessidade de proteger os trabalhadores. Isso ficou nítido no começo, quando máscaras chegaram a ser "proibidas" por "afastar" os clientes. Então, fica um alerta para que os funcionários se atentem. Tivemos que brigar muito.
A crise econômica tem afetado os trabalhadores do seu setor?
Antes da pandemia, já vivíamos uma situação de crise. Enquanto em 2013, chegamos a ter em torno de 370 mil trabalhadores; em dezembro de 2020 foram contabilizados 288 mil com carteira registrada, segundo o Caged. Hoje, 90% dos que procuram o nosso jurídico se queixam de empresas que fecharam as portas e demitiram sem pagar as verbas rescisórias. Ou pior: há casos de calote, com a assinatura da homologação, mas sem o pagamento. E quando a ação é ajuizada, o empregador alega que o funcionário recebeu em dinheiro.
Com as eleições próximas, fala-se muito na reforma trabalhista. Como ela afeta a classe?
Para a gente, foi péssimo. Alguns cargos estão sendo pejotizados. Por exemplo, gerentes e supervisores estão sendo obrigados a abrir MEI. Temos um conjunto de terceirizações de atividades-fim no comércio, como operadores de caixa, com salários precarizados e piores condições de trabalho. Além disso, como as homologações deixaram de ser feitas no sindicato, o número de calotes aumentou. Diziam que a flexibilização beneficiaria os trabalhadores, mas patrão e empregado nunca estarão na mesma condição de negociação. O fim do imposto sindical foi um atrativo para a população ser favorável à reforma.
Como o sindicato tem se mantido sem o imposto, revogado pela reforma?
Ninguém quer pagar imposto, então o trabalhador nunca vai expressar a vontade de contribuir. Estamos mostrando a nossa importância nas negociações: ao fecharmos os reajustes, propomos um valor de contribuição para apoiar a estrutura, e abrimos um prazo para trabalhadores se oporem. Seria interessante uma legislação para regulamentar esse processo, levando a outra lógica de organização e de defesa dos trabalhadores.
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