Eduardo Galvão, fundador do Instituto Pensar RelGovDivulgação
Fundador do Instituto Pensar RelGov — que produz e divulga conhecimento em relações governamentais, Eduardo Galvão desenvolveu, ao lado de colegas, um ranking totalmente automatizado para mapear os parlamentares mais influentes. A metodologia foi feita em conjunto pelo Pensar e pela SigaLei, uma startup de inteligência de dados. Em entrevista a O DIA, o mestre em Direito das Relações Internacionais explica como funciona o ranking, assim como a sua relevância no cenário político brasileiro atual. "Tanto para o cidadão eleitor como para a sociedade civil, é necessário saber quem está trabalhando e fazendo mudar a realidade", pontua.
O DIA: Como medir o índice dos mais influentes do Congresso?
EDUARDO: Os modelos antigos normalmente se baseiam na análise de especialistas, o que traz um alto grau de subjetividade. O nosso desafio foi neutralizar os vieses cognitivos e de confirmação, tendo apenas um compromisso com o método, e não com os resultados. O nosso modelo traz uma inteligência baseada em dados — e que pode mudar a toda hora, conforme a aprovação de novos projetos ou ascensão de líderes. Além disso, dividimos a noção de influência em quatro categorias diferentes: liderança, performance legislativa, alcance social e o ranking geral, que une os três anteriores.
O senhor poderia explicar o que cada uma significa?
Perguntar quem são os mais influentes é muito amplo. A liderança se refere ao parlamentar que define as votações: o PL vai ser aprovado? Como a bancada vai votar? A performance legislativa analisa o que chamo de empreendedor político: o parlamentar que faz o projeto virar realidade. Normalmente, acaba sendo relator, conversa com outros deputados e partidos para discutir emendas e redação. Já o alcance social se trata de uma influência mais voltada para fora da Casa, diferente dos outros. É o parlamentar que tem mais capacidade de conversar com a opinião pública e mobilizá-la. O ranking geral une todas as categorias anteriores.
Qual é a importância de a sociedade saber o nível de influência dos parlamentares?
Tanto para o cidadão eleitor como para a sociedade civil, é necessário saber quem está trabalhando, quem está dando as cartas e fazendo mudar a realidade. O parlamento sempre esteve muito distante da realidade das pessoas, o que traz mais visibilidade para quem está na mídia ou nas redes. Então não percebem se aquele parlamentar que recebeu o voto realmente está fazendo a diferença.
"Influência" parece ser a palavra da moda. Por quê?
Acho que essa percepção da influência vem muito em função das redes sociais. O poder de mudar opiniões e mobilizar o público em função de causas, por exemplo. Antes, a capacidade de diálogo era muito canalizada em poucos veículos e, com as redes, pessoas comuns passaram a influenciar espaços para além do círculo que está fisicamente à nossa volta.
Como a própria sociedade pode influenciar os parlamentares?
O trabalho do parlamentar também passa por fazer uma escuta social. As redes têm contribuído nesse sentido, funcionam tanto para o deputado dialogar com o público quanto para o contrário — escutar o que vem das redes e entender para qual lado a opinião está apontando. Há quem faça enquete com seus eleitores para definir como vai votar. O que faz barulho na sociedade civil acaba reverberando dentro da casa legislativa, a exemplo de movimentos como LGBTQIAP+, Black Lives Matter e Meu Corpo Minhas Regras.
O Pensar RelGov acredita em uma democracia mais colaborativa. Como assim?
Atualmente, exercemos nossa democracia a cada quatro anos. Você elege um deputado porque percebe uma aderência aos seus valores e dá uma carta branca para ele governar. Depois de quatro anos, decide se dá um novo mandato. Esse modelo já está em crise no mundo há muito tempo, já que agora os cidadãos são mais educados e hiperconectados. Entendendo melhor o que são os serviços públicos e quem paga por eles, as pessoas ficam mais exigentes. O celular foi responsável por muitas mudanças recentes, como a primavera árabe e as passeatas de 2013. Estamos mais ativos na vida política: o cidadão hoje exige respostas imediatas a demandas do dia a dia.
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