Ana Cláudia Santano, coordenadora da ONG Transparência Eleitoral Brasil Divulgação

Em um cenário de muitos ataques à confiabilidade das urnas eletrônicas, a ONG Transparência Eleitoral Brasil decidiu ajudar a fortalecer a confiança pública nas eleições. A partir das missões de observação eleitoral nacional registradas junto ao TSE, voluntários capacitados estão acompanhando o pleito desde a campanha até a divulgação dos resultados. Em entrevista a O DIA, a coordenadora nacional da ONG, Ana Cláudia Santano, explica como funciona a iniciativa, bem como a importância do voto para a garantia da democracia. "A observação é como se fosse um VAR no futebol, te traz uma visão diferenciada sobre o que está acontecendo em campo".
O DIA: Qual é a avaliação da Transparência Eleitoral sobre o primeiro turno de 2022?
ANA: No que se refere ao primeiro turno, os dados falaram de um processo pacífico, contrariando as expectativas. A gente também não encontrou nada que pudesse comprometer o resultados das eleições. Vimos muita abstenção, muitas filas, e para isso a causa varia muito. Uns dizem que foi por causa da biometria — outros, por muitos não saberem votar, da nacionalização das eleições e esquecimento dos outros cargos…
Como a democracia pode ser fortalecida a partir do voto?
A gente precisa perceber que o voto é a forma mais genuína de expressão política: cada um tem um. O dia da eleição faz com que todo mundo tenha voz — somos colocados em posição de igualdade. No segundo turno, um a mais pode fazer diferença e o candidato leva tudo. O ato de votar tem consequências nas políticas públicas durante anos, reflete nas nossas vidas. Além disso, podemos conhecer o que pensamos enquanto sociedade no dia da eleição. O voto deixa de ser um direito para ser uma obrigação cívica — fortalece a visão coletiva e a escuta de muitos setores da sociedade que no cotidiano nem sequer percebemos que exista.
Porque é importante que o eleitor valorize a votação?
O ato de votar requer preparação. Precisamos ver onde fica a seção eleitoral, se estamos regularizados na Justiça Eleitoral. Além disso, é necessário analisar em quem vamos votar, qual é a proposta do candidato, o partido, a vida pregressa e a vida política dele. Quando percebemos essa preparação, entendemos a importância de pensar nisso o quanto antes. É algo que requer um momento de consciência e reflexão para decidir o que queremos daqui para frente. Portanto, a valorização do momento da votação passa por perceber os seus impactos na nossa vida. A democracia é uma forma de ter esperança no futuro e em uma visão melhor de sociedade — e o momento do voto se conecta com essa esperança.
90 observadores já se revezam para marcar presença até a divulgação dos resultados. O que esse acompanhamento garante?
A observação eleitoral é uma ferramenta de monitoramento silencioso, imparcial e independente, de justiça eleitoral, por parte da sociedade civil. Olhamos as eleições de um ponto de vista organizacional. Para chegar no resultado com confiança e integridade, precisamos analisar tudo que veio antes: se a campanha transcorreu de forma adequada, se as candidaturas tiveram espaço dentro do partido. Então vamos acompanhando as seções eleitorais, a organização das urnas — para que todos possam votar com liberdade. Observamos se as urnas estão funcionando, se os mesários estão bem treinados. Assim como o dia da votação e os resultados. Acompanhamos cada etapa dessas, trazendo transparência. O ponto mais positivo é que é como se fosse um VAR no futebol, te traz uma visão diferenciada sobre o que está acontecendo em campo.
Quais as expectativas para o próximo dia 30?
É importante repetirmos um ambiente tranquilo no segundo turno, em que geralmente os ânimos estão mais ansiosos. Por isso, fazemos um chamado para tranquilidade, para tolerância, para que sejam eliminados os traços de violência. O Brasil não tem cultura de violência política e merece ter uma eleição à altura de sua reputação de ser um povo tranquilo. Fazemos também um apelo para que todo mundo, independentemente da ansiedade que esteja sentindo, espere o resultado oficial divulgado pelo TSE — que é a autoridade máxima eleitoral. É assim que vamos poder ter um resultado que traga a pacificação da nossa sociedade.
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