Hoje, dia 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, que marca a luta pela igualdade de gênero, para lembrar as conquistas feministas e o tanto que ainda há a fazer. Mas poucas dessas conquistas são tão significativas quanto o direito ao voto - base dos direitos políticos de todo cidadão e cidadã em qualquer sociedade.
No Brasil, essa vitória veio, enfim, em 24 de fevereiro de 1932, durante o governo provisório de Getúlio Vargas, após extensa campanha das sufragistas, como eram chamadas as mulheres que lutavam por seus direitos aqui e no exterior. As discussões políticas sobre esse tema se arrastavam há um século, desde a independência do Brasil, em 1822. Há registros que datam dos debates anteriores à Constituição de 1824.
Pois, com o fim da República Velha, duas mulheres foram convidadas para participar da comissão de elaboração do anteprojeto da nova Constituição: a zoóloga Bertha Lutz e a advogada Natércia da Cunha Silveira, dois grandes nomes da luta feminista. Da comissão saiu o Código Eleitoral, estabelecendo que estavam aptos a votar "o cidadão maior de 21 anos, sem distinção de sexo, alistado na forma deste Código”.
Hoje parece tardio — e certamente é — mas não estávamos tão descolados do resto do mundo nesse ponto. O atraso nesse campo era universal. Fomos um dos primeiros países a instituir o voto feminino na América do Sul. E países como a França e Itália só tomariam medidas semelhantes com o final da Segunda Guerra Mundial.
Vale lembrar que no Brasil, antes de 1932, várias mulheres vinham solicitando a emissão de título eleitoral, mas eram situações pontuais e as decisões dos juízes eram caso a caso. Eram excepcionalidades e não havia jurisprudência consolidada. Era preciso que fosse a regra. E que houvesse segurança jurídica.
Isso veio com o decreto de 1932. Mesmo assim, a instituição do voto feminino teve alguma limitação inicial. Era facultativo, obrigatório apenas para as funcionárias públicas. Estavam aptas apenas as mulheres alfabetizadas.
No ano seguinte as mulheres puderam votar e apresentar-se como candidatas à Assembleia Nacional Constituinte. A médica Carlota Pereira de Queirós teve 176 mil votos e tornou-se a primeira deputada no país. Apenas em 1976 teríamos a primeira senadora, Eunice Michilles, eleita como suplente e que tomou posse após o falecimento do titular.
A conquista foi consolidada dois anos depois, com a Constituição de 1934, a segunda da República, estabelecendo igualdade de direitos políticos para homens e mulheres. Podia votar quem tivesse mais de 18 anos e fosse alfabetizado, sem qualquer diferenciação relativa ao gênero.
Atualmente, o direito político do voto feminino não é mais objeto de disputa ou questionamento. Avançamos. Nesse campo, a luta feminista no momento é para que a representatividade das mulheres reflita a presença delas nos universos políticos.
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