Por O Dia
Quem já entrou em um bote e precisou remar sabe bem que mais braços remando fazem uma grande diferença. E que se todos coordenarem os movimentos e remarem na mesma direção o bote se movimentará mais rápido e de forma mais eficiente. Se cada um remar para um lado o bote provavelmente irá se mexer apenas pela força da corrente.

A importância de um trabalho de equipe bem coordenado é fundamental em atividades esportivas em grupo, mas serve também para os aspectos da vida onde haja interação entre pessoas.

Não existe nada hoje onde isso seja mais claro do que no combate à Covid-19. A saída para estancar a pandemia é a vacinação em massa, que segue em ritmo lento aqui e na maior parte do mundo. Até lá, para diminuir o contágio, é preciso seguir as orientações de distanciamento e cuidados, demandando esforço e sacrifício individual, bem como integração e colaboração entre diversas instâncias públicas.

Tivemos um exemplo disto esta semana. O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, e os prefeitos da capital, Eduardo Paes, e de Niterói, Axel Grael, podem ter algumas visões distintas sobre a melhor forma de conduzir o enfrentamento da pandemia, mas deixaram suas diferenças de lado e buscaram pontos convergentes, com a participação da Alerj.

A antecipação de feriados para criar um recesso de 10 dias (que começa nesta sexta-feira 26) é uma medida dura, mas recomendada pelas autoridades sanitárias e especialistas científicos para desafogar a rede hospitalar.

Politicamente, o feriadão foi um jeito de evitar o peso simbólico e psicológico de um lockdown. Mas o recesso não deve ser visto como uma oportunidade para as pessoas viajarem ou curtirem. O objetivo é evitar aglomerações.

Para desestimular o turismo interno, o decreto do governador proibe banho de mar e ficar na areia em praias em todo o estado. E as cidades foram autorizadas a realizar barreiras sanitárias nas estradas de acesso. Algumas já anunciaram que pretendem implantar a medida.

Para os próximos dias, que devem ser cruciais, decretos do estado e de alguns municípios determinaram o que funciona ou deixa de funcionar. Há municípios que não se manifestaram sobre os 10 dias de recesso. Nesses casos, vale o decreto do governo do estado. Nos outros, quando houver alguma discrepância, vale a medida mais rígida.

Exemplo: segundo as regras estaduais, bares e restaurantes podem ficar abertos até às 23 horas, com o último cliente entrando às 21h. Mas no Rio de Janeiro e em Niterói esses estabelecimentos não poderão receber clientes e só estão autorizados a funcionar em esquema de entrega e retirada no balcão. No Rio e em Niterói os shoppings centers também não abrem. E como se trata de antecipação de um feriado, as escolas permanecerão fechadas em todo o estado.

São medidas extremas para um momento extremo, em que o Brasil completou um ano de Covid-19 ultrapassando a barreira de 300 mil mortos e sendo considerado o epicentro da pandemia no mundo. Em face disso, é positivo que as decisões sobre o recesso tenham sido tomadas envolvendo o legislativo e o executivo, em nível federal e municipal.

Sem um enfrentamento conjunto, com alinhamento de medidas, o vírus ganha mais facilidade para se espalhar. É mais eficiente quando todos remam na mesma direção.
*Luciano Bandeira é presidente da OABRJ