RIO - Muito cidadão comum nem presta a atenção na alta do dólar, que ontem fechou a R$4,15. Faz raciocínio curto e direto, de que mora no Brasil, que recebe e paga em reais. Não vai viajar para o exterior nem consome champanhes e vinhos estrangeiros. Conclui que o dólar talvez seja problema para quem ganha muito e viaja para Europa e EUA.
A moeda afeta todo mundo: ricos e pobres. Num mundo globalizado, empresas brasileiras sofrem com a influência da subida do câmbio. O primeiro sintoma é no preço do petróleo, repassado pela Petrobras ao valor final dos combustíveis. Segundo, nas matérias primas e insumos da produção nacional, que sempre tem algum componente estrangeiro, seja computador ou licença de software.
Há itens diretamente afetados, como produtos feitos com trigo que o país importa a maior parte que consome. Pão francês, farinha de trigo, massas e biscoitos em geral estão mais caros.
Isso pode ser explicado. Decorre da melhora da economia norte-americana, que subiu juros internos, atraindo investimentos nos títulos públicos governamentais, que são vendidos em dólares. A outra razão é a indefinição da sucessão presidencial brasileira. A menos de três meses das eleições, não há candidatura que desponte nas pesquisas, considerando simulações em que o ex-presidente Lula seja impedido de concorrer, que é o desfecho mais provável.
As chances de vitória de candidatura que o mercado associe à proposta de aumento dos gastos e de recuo nas Reformas Previdenciária e Trabalhista colocam lenha na especulação. Assim, enquanto perdurar a indefinição, com chances de vitória mais à esquerda ou de extremado nacionalismo, o dólar vai continuar nas alturas.
Se o cenário mudar e as candidaturas de centro, que o mercado financeiro entende como mais responsáveis crescerem, o cotação deve recuar a menos de R$ 3,80. Enquanto isso, só se tem uma certeza: quem achava que não tinha nada a ver com tudo isso vai pagar a conta do dólar.
* Gilberto Braga é professor de finanças do Ibmec e da Fundação Dom Cabral