Marcio Coriolano, presidente da CNSeg - Divulgação
Marcio Coriolano, presidente da CNSegDivulgação
Por Herculano Barreto Filho

Rio - Marcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg), concedeu entrevista exclusiva à coluna após a divulgação do documento com as 22 propostas enviadas aos presidenciáveis. O documento sugere a redução de custos para oferecer seguro à população de baixa renda, fala sobre reformas na infraestrutura do país e também discute temas essenciais no debate, como Previdência e Saúde.

Qual a contribuição do setor para o debate entre os presidenciáveis no segundo turno?

Pelo menos dois temas vão ser mais provocados pela própria mídia, que é Previdência e Saúde. Até agora, ninguém aprofundou essa discussão. Nos debates, não vi nenhuma proposta de presidenciáveis a respeito de seguro. A inflação ocupou a atenção quase que integral das autoridades econômicas. O setor de seguros perdeu espaço. O principal objetivo é que o setor passe a ser reconhecido como importante.

As eleições podem colocar o tema em evidência?

A tarefa é essa. Precisamos ter a humildade de reconhecer que o seguro ainda não é conhecido por grande parte da população. Também é necessário vencer um certo mau humor da sociedade. Como o seguro tem um custo razoável no orçamento familiar, qualquer dúvida sobre o que cobre causa uma frustração.

Como funciona o setor?

O princípio do seguro é juntar todo mundo na mesma cesta, sabendo que algumas pessoas vão usar. Outras, não. É o princípio do mutualismo. A judicialização vai contra isso. Daí a importância de explicar para o Executivo, para o Legislativo e para o Judiciário. O mundo não funcionaria sem o seguro.

Qual a importância do segmento para a sociedade?

A seguridade social moderna surgiu por causa da guerra. Era aquele bando de gente voltando para casa sem emprego, qualificação ou com invalidez. O estado tinha que suportar isso. Foi assim que se desenvolveu a saúde pública na Inglaterra e Alemanha. Quanto mais desenvolvido é o país, mais desenvolvido é o seguro como instituição. Só existem duas possibilidades de reposição de bens. Ou é o seguro ou quem repõe é o governo. Para o Estado funcionar sem precisar socorrer as pessoas, é preciso ter um esquema de solidariedade através dos seguros.

Como está a situação do Brasil hoje?

O Estado tem déficit fiscal. A população não quer pagar mais impostos e deixou isso claro. Vai ser preciso reduzir a máquina pública e cortar gastos, liberando atividades para a iniciativa privada. O novo presidente vai ter que levar adiante um projeto de reforma da Previdência. As pessoas vão precisar acumular recursos para complementar a Previdência. Para isso, o governo vai ter que incentivar o setor privado a avançar nesses produtos. Isso está claro nas propostas aos presidenciáveis.

De que forma o setor pode contribuir para o crescimento do país?

A infraestrutura no Brasil se deteriorou nos últimos anos. Se a atividade econômica começar a melhorar, é preciso garantir a execução de obras em rodovias, portos e aeroportos para que seja reposta. A nossa proposta é garantir a execução dessas obras caso haja algum problema. Outro ponto importante é a saúde suplementar. Todo mundo reconhece que a saúde pública do Brasil não dá conta das necessidades da população. Os seguros e planos de saúde só pararam de crescer nos últimos anos por causa do desemprego. Quando a economia voltar a aquecer, isso vai mudar. Mas existem falhas na legislação. Isso faz com que os custos da saúde sejam muito acima das reposições salariais. É o pior dos mundos. Esse sistema tem que ser reorganizado com o médico da família e a organização da rede.

A proposta fala em seguros inclusivos. De que forma a população carente pode ter acesso ao seguro?

É preciso tornar o seguro mais barato para alcançar a população de menor renda. Uma das propostas é reduzir as exigências que encarecem o produto. Já não faz mais sentido hoje ficar exigindo assinatura de documento. Basta digitalizar e mandar. Essa é uma maneira inteligente de reduzir os custos. Outra coisa é permitir a criação de seguradoras exclusivas, com exigências regulatórias mais aliviadas. A regulação é fortíssima sobre essa atividade. Talvez seja a atividade mais regulada do planeta. Só que isso tem um custo. E é o mesmo para o seguro de uma usina nuclear ou para uma residência de uma pessoa de baixa renda. Não faz muito sentido. Defendemos a formação dessas seguradoras especializadas só no seguro inclusivo, com exigências regulatórias menores. 

Você pode gostar
Comentários