Presidente da ADPF, Edvandir Paiva diz que governo sinaliza uma coisa para a categoria, mas faz outraJulio Franca/ ADPF

Por PALOMA SAVEDRA
Apesar da pressão feita pelos agentes de Segurança Pública em Brasília, a Câmara dos Deputados deve manter, em votação nesta quarta-feira, todos os gatilhos da PEC Emergencial que preveem mais austeridade no serviço público. Inconformados com a perspectiva de um longo período de congelamento salarial, os policiais se dizem "enganados mais uma vez pelo governo Bolsonaro" e organizam uma paralisação em protesto ao arrocho.
Nesta quarta, às 10h, representantes de pelo menos 24 associações que integram a União dos Policiais do Brasil (UPB) farão uma coletiva de imprensa para anunciar posicionamento conjunto das entidades em relação ao tratamento do Executivo. Segundo a UPB, o governo está tratando os agentes "com desprezo".
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Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva disse à coluna que os policiais analisam como será feita a paralisação. "Vamos fazer um protesto, conversar com nossas bases para verificar como será a paralisação, nem que seja curta, pois não podemos fazer greve".
Paiva criticou os mecanismos de contenção de gastos públicos previstos no texto. Segundo ele, a previsão é de que os policiais e outras categorias do funcionalismo público fiquem mais 15 anos sem reajuste e reforço de pessoal
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"Mais uma vez, estamos nos sentindo realmente muito enganados pelo governo Bolsonaro, que sinaliza com as alterações (na PEC) que a gente entende que são justas, pelas especificidades da carreira, mas na hora de ir ao Congresso Nacional defende outra, defende a aprovação do texto", afirmou o presidente da ADPF.
Ele lembrou ainda os desgastes que ocorreram na época da votação da Reforma da Previdência. No entanto, para o delegado, a PEC Emergencial penaliza ainda mais a categoria.
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"Na reforma foi a mesma coisa, o governo sinalizou por uma proteção aos policiais, mas fez outra. Agora nessa situação a coisa foi um pouco mais grave, pois não estão fazendo um congelamento somente durante a pandemia. E desde 2016 já não tem negociação salarial para as carreiras policiais da União. Agora vem com uma possibilidade de congelamento de salários, de progressões e de contratações por 15 anos", argumentou.
PANDEMIA AFETA CORPO A CORPO
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Edvandir Paiva disse que a celeridade com a qual o Congresso está votando a PEC Emergencial, principalmente neste momento de pandemia, também prejudica a articulação das categorias.
"Está sendo aprovada a toque de caixa. Foi aprovada na semana passada no Senado e nesta semana pela Câmara. E a pandemia nem permite que a gente faça um corpo a corpo que a gente costuma fazer".
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POLÍCIA É SUPERAVITÁRIA
O representante da categoria alegou também que a Polícia Federal é superavitária. E reforçou que, para a instituição, ficar 15 anos sem a possibilidade de reforçar o quadro de policiais é uma medida preocupante.
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"Só no ano passado a Polícia teve de apreensões de bens e valores o valor de R$ 9,6 bilhões. Isso significa em um ano 9 vezes o orçamento da Polícia para investimentos. É uma Polícia superavitária. Estamos trabalhando a todo tempo, e o governo sinaliza com um tratamento diferenciado para os agentes que atuam nessas condições. Não estamos somente com a possibilidade de salários congelados por 15 anos. Imagina a PF ficar também 15 anos sem poder contratar ninguém?", indagou.