Por luana.benedito

Rio - “Não aceito que o regulamento da Liesa seja rasgado”. Foi com essa frase, que o presidente da Portela, Luis Carlos Magalhães, declarou nesta quinta, que irá entrar com recurso na Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) para anular a votação que concedeu a divisão do campeonato do Carnaval à Mocidade. O pedido deve ser oficializado até a próxima sexta-feira.

Se do lado Azul e Branco o título da escola da Zona Oeste causou revolta, no reduto da da Verde e Branca, o sentimento era só de alegria. Depois do jejum de 21 anos, torcedores comemoram com festa e até hastearam bandeiras nas fachada de lojas e casas de Padre Miguel.

Mocidade e Portela dividem o título no Carnaval de 2017Arte%3A O Dia Online

Para a Portela, a decisão tomada na quarta-feira durante votação das 12 escolas de samba— que garantiu a divisão do campeonato com a Mocidade por 7 votos a favor, 4 abstenções e 1 contra— é ilegal. “Se o recurso de nota fora do prazo for aceito a partir de agora, então é preciso que se faça uma emenda e modifique as regras para o próximo Carnaval, não para este, que já aconteceu”, explicou Luis Carlos.

O diretor jurídico da Portela, Leovegildo Pinto, acrescentou que, de acordo com o regulamento da Liesa, o recurso tem que ser apresentado à Liga até às 13h da quarta-feira de cinzas, o que não foi feito pela Mocidade, “tanto que o Doutor (Sylvio) Capanema (consultor jurídico da Liesa) indeferiu o pedido”, completou Leovegildo.

Em defesa do reconhecimento do título, Rodrigo Pacheco, vice-presidente da Mocidade, disse que a Portela tem todo o direito de recorrer, mas acredita na soberania da votação de quarta-feira. “O fato de ter entrado com recurso fora do prazo é questão de entendimento do regulamento e o que o plenário decidiu, está decidido. Não vamos questionar”, finalizou Pacheco.

A Mocidade abriu mão do prêmio garantido ao primeiro lugar. “Como a Portela já recebeu o dinheiro e já usou uma parte dele, prefiro evitar a burocracia”, declarou, Wandyr Trindade, presidente da escola. A Liesa não deu detalhes sobre o troféu para a nova campeã e também não esclareceu o fato do jurado ter usado material desatualizado, que resultou na perda de um décimo da Mocidade no quesito enredo.

Se depender do presidente da Portela, a relação da escola com as agremiações que votaram a favor da divisão do título—Vila Isabel, Grande Rio, União da Ilha, Paraíso do Tuiuti, Mangueira, São Clemente e Mocidade— e as que se abstiveram— Imperatriz, Beija-Flor, Unidos da Tijuca e Salgueiro— não muda, mas ele afirma que os componentes estão chateados. “Tem um evento na Mangueira sábado, mas não sei se a comunidade vai se sentir a vontade para ir”, concluiu Luis. 

Polêmica entre torcedores

A mudança no título do Carnaval de 2017 gerou polêmica entre os torcedores da Mocidade e da Portela. Portelense, o contador Flávio dos Santos, de 50 anos, afirmou que nunca havia visto uma situação parecida e acrescentou que a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) abriu um "precedente perigoso". "Já vi resultados questionáveis e mais de uma escola campeã, mas tudo dentro da apuração. Só essa nota merecia ser revista? Então teria que revisar todos os quesitos de todos os jurados", completou.

Para a estudante Georgette Tartari, de 33 anos, a decisão da Liesa pode até ter sido justa para a Mocidade, mas ressaltou que a Portela fez um desfile impecável. "Me pergunto de que forma isso pode afetar os próximos carnavais. Não sei se é válido ganhar assim. Por uma nota de desempate, mal avaliada, o título teve que ser dividido. Claro que fiquei chateada", lamentou.

O publicitário Eduardo Pascottini, de 28 anos, destacou que a divisão do campeonato não diminuirá a alegria pelo título. "Além de achar que a Portela merecer mesmo, valeu também o reconhecimento da importância da escola, que é, de fato, um dos grandes ícones da cultura carioca", reforçou.

Já os torcedores da Mocidade estão fazendo a festa. Segundo o administrador Pedro Gaspar, de 23 anos, a mudança "reparou um erro grave por parte da comissão julgadora". "A escola foi lesada por um erro que não existiu", enfatizou o jovem, que costuma frequentar os ensaios na quadra da Verde e Branca.

Mocidade de coração, a cabeleireira Fidelina Barbosa, de 23 anos, assistiu ao desfile pela Internet, já que se mudou para El Salvador em novembro do ano passado. "A escola estava linda e vem fazendo bons desfiles há pelo menos dois anos. A escola lutou e se mobilizou diante do erro para trazer para a comunidade o que merece", explicou Fidelina, que morou em Padre Miguel.

A publicitária Carina Souza, de 23 anos, reforçou que a decisão foi justa, mas disse que a Mocidade continuou sendo a maior prejudicada da história. "Não teve a oportunidade de comemorar no dia da apuração e nem de desfilar como campeã. E a escola ainda está sando como campeã ilegítima para algumas pessoas", analisou.

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