A Beija-Flor e a Paraíso do Tuiuti, campeã e vice do Carnaval carioca, respectivamente, fizeram a alegria dos torcedores das escolas por utilizarem os seus desfiles para dar visibilidade às mazelas sociais. A postura adotada pela agremiação, de abordar um enredo com tom crítico, foi muito elogiada pelas ruas de Nilópolis, na Baixada Fluminense. Na cidade, não faltaram moradores usando camisas da Azul e Branca para expor sua paixão. Em São Cristóvão, o segundo lugar da Paraíso do Tuiuti foi o assunto do dia nas ruas. Sobraram elogios ao trabalho do carnavalesco Jack Vasconcelos e à garra da comunidade. A alegria e o samba no pé dos componentes foram apontados como fatores determinantes.
Com sua camisa da Paraíso do Tuiuti, o relojoeiro Oswaldo Luiz Muniz, 65 anos, estacionou o carro próximo à Rua Emancipação, como faz todos os dias antes de iniciar seu trabalho. No entanto, para a sua surpresa, ontem a recepção nas ruas foi diferente. "Ao atravessar, um carro preto com vidro escuro buzinou para mim. Estranhei. Foi, então, que o motorista abaixou o vidro e aplaudiu a minha camisa", contou orgulhoso. Ele elogiou o samba-enredo e ressaltou o trabalho da equipe de Carnaval, que fez desfile de alto nível, mesmo com orçamento mais baixo do que as escolas consideradas grandes.
Membro da bateria da escola há 25 anos, Muniz, relembrou antigos carnavais, quando desfilou na Avenida Rio Branco. "A escola já passou por momentos difíceis, mas a força da comunidade faz a diferença. Vamos nos manter como escola do Grupo Especial", festejou.
Os clientes da barbearia do Eric da Silva, próximo ao Morro do Tuiuti, passaram a tarde falando sobre o enredo, que abordou o tema da escravidão no país, comparando a Reforma Trabalhista a um retrocesso como o trabalho escravo. Uma das alegorias trouxe a Carteira de Trabalho.