Portelense Vilma Nascimento dá dicas a Anderson Morango (direita) e ao mestre-sala Wladimir Bulhões - DIVULGAÇÃO
Portelense Vilma Nascimento dá dicas a Anderson Morango (direita) e ao mestre-sala Wladimir BulhõesDIVULGAÇÃO
Por O Dia

Rio - A escola de samba Acadêmicos do Sossego, de Niterói, promete abalar as estruturas do Carnaval no ano que vem. A agremiação da Série A vai apresentar, pela primeira vez na história da Sapucaí, um casal de mestre-sala e porta-bandeira composto por dois homens.

Com 20 anos no samba e homossexual assumido, o cabeleireiro Anderson Morango, de 38 anos, vai desfilar como terceira porta-bandeira da escola caracterizado de mulher, com saia, peruca, maquiagem e tudo que tem direito. Segundo Morango, sua fantasia vai chocar o público e trazer reflexões sobre o preconceito. "Será uma quebra de paradigma, mas é a realização de um sonho pisar na Sapucaí como porta-bandeira. Estou botando minha cara pra bater", afirmou ele, que reforçou que não é drag queen, mas sim um "artista que representa uma personagem".

Filho de uma mangueirense e um compositor de samba-enredo, Morango se caracterizou como porta-bandeira pela primeira vez em 2016, no desfile da escola Embalo do Engenho Novo, na Estrada Intendente Magalhães, no Campinho. Foi quando o presidente da Acadêmicos do Sossego, Wallace Palhares, o viu.

"Decidi convidá-lo este ano porque nosso enredo é um basta a qualquer tipo de preconceito. Anderson é muito bom no que faz e o Carnaval sempre foi um grito de liberdade, não há espaço para intolerância", defendeu Palhares.

Para o porta-bandeira, que recebeu o convite com surpresa, não há desrespeito às tradições carnavalescas. "Historicamente, os primeiros estandartes eram homens, em uma época em que mulheres eram proibidas de participar da festa. Não quero causar tumulto, quero apenas mostrar a minha arte", destacou Morango, que já foi convidado para participar da Parada Gay em outubro.

Com apoio da família e da escola pela qual vai desfilar, o dançarino também conta com o aval de Vilma Nascimento, maior porta-bandeira da história Portela, apelidada de Cisne da Passarela. "Ela me deu dicas de como me comportar na Sapucaí e me trata com muito carinho", contou Anderson, que ensaia semanalmente junto ao seu par Wladimir Bulhões, de apenas 17 anos.

Sobre as críticas, que têm aumentado após o anúncio oficial da agremiação, Morango diz responder com sua alegria no trabalho. "Minha vida deu um giro que não imaginei, estou sendo apedrejado por ser gay e negro, mas esse sou eu e sou feliz assim", defendeu. "A dança é o corpo em movimento, deixa meu corpo se movimentar e movimente sua vida", finalizou ele. 

*Da estagiária Luana Dandara, sob supervisão de Angélica Fernandes

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