Rio - Se fosse reeditado nos dias de hoje, o clássico samba-enredo de 1964 do Império Serrano, 'Aquarela Brasileira', não ficaria restrito ao passeio pelas terras nacionais. A canção teria que exaltar também as aventuras que já chegaram até o outro lado do mundo, como Japão, por exemplo, onde a escola de Madureira inaugurou uma filial no ano passado.
A vizinha Portela também tem forte presença na Terra do Sol Nascente, com uma embaixada que recebe sambistas portelenses o ano todo em um intercâmbio cultural. Outras agremiações do Grupo Especial, como Mangueira e Paraíso do Tuiuti, não ficam para trás, e viajam em shows e oficinas por diversos países.
O coreógrafo Carlinhos Salgueiro, por exemplo, leva há 12 anos o nome da escola Vermelha e Branca para o exterior. Ele já viajou mais de 30 países ministrando aulas e fazendo apresentações. "O samba lá fora virou uma febre, formo professores e alunos. A demanda é tanta que até escolho os países que vou".
Segundo o coreógrafo, cada lugar tem sua maneira de sambar, mas Suécia e Inglaterra se destacam. "Eles são muito técnicos, eu levo o que sei e também aprendo coisas novas", disse Carlinhos, que reforça o orgulho pelo seu trabalho. "Tudo que eu tenho e sou devo ao samba, essa arte me levou pro mundo".
Presidente do Consulado da Portela no Japão, Marcello Sudoh explica que o interesse japonês pelo samba é antigo. Nascido em Botafogo e erradicado na Ásia em 1991, ele abriu há dois anos o consulado em Tókio. "Temos palestras sobre a cultura brasileira, aulas de cuíca, bateria, passistas, entre outros", contou.
Na semana passada, o país inclusive promoveu o 'Asakusa Samba Carnival', maior desfile de escolas de samba realizado fora do Brasil, com cinco mil sambistas japoneses e um público de 400 mil pessoas.
Apaixonado pelo Império Serrano, o músico japonês Keita Shibuya participa há 20 anos dos desfiles na Sapucaí e decidiu abrir a filial da agremiação para aulas de instrumentos e apresentações. Para a porta-bandeira da Portela, Lucinha Nobre, o ritmo tem sido cada vez mais valorizado no Japão e no mundo. "O que me impressiona é que eles cantam os sambas da Portela mesmo sem falar português".
Só neste ano, o vice-presidente social da Mangueira, Pablo Brandão, já foi para Espanha, Suíça, Holanda e Angola com shows da agremiação. "É uma oportunidade de renda extra, divulga a escola e a cultura carioca", afirmou.
Mestre de bateria da União da Ilha e músico do cantor Dudu Nobre, Jefferson Araújo destaca que alguns alunos do workshop também entram para a agremiação. "Sempre encontramos alguém com um talento especial. Os ensinamentos vão desde a afinação do instrumento à postura pra tocar".
Com 30 anos de história no samba, o coordenador da ala de passistas da Paraíso do Tuiuti Alex Coutinho viaja com o projeto 'Meninos do Paraíso', junto com o outro coordenador Jorge Amarelloh, para ensinar gringos a sambarem. "O que me deixa mais fascinado é o esforço que eles fazem pra pegar o ritmo. A dificuldade, claro, é o swing".
"É uma contribuição intangível e uma grande responsabilidade de levar a cultura do Carnaval carioca para o exterior", disse o diretor cultural da Portela, Rogério Rodrigues.
Reportagem da estagiária Luana Dandara sob supervisão de Angélica Fernandes