A Ala do projeto Plus Size no Samba RJ já conta com 38 componentes mas espera chegar a 80 até o carnaval - Alexandre Brum
A Ala do projeto Plus Size no Samba RJ já conta com 38 componentes mas espera chegar a 80 até o carnavalAlexandre Brum
Por Luana Dandara*

Rio - Se antes as mulatas com corpos esculturais eram os destaques que atraíam olhares na Marquês de Sapucaí, a Paraíso da Tuiuti vai provar neste Carnaval que as gordinhas também têm beleza e samba no pé. A agremiação inaugurou uma ala só de mulheres plus size no ano passado, quando conquistou o vice-campeonato, mas espera consolidar os ideais de representatividade e inclusão em 2019. O time está aberto a reforço e quem se encaixa no perfil já pode se inscrever para participar da folia.

"Somos acima do peso, mas a gente samba, tem carisma, alegria, e transmite isso para as pessoas", afirmou a integrante da ala Karin Rodrigues, de 46 anos. Por enquanto, o grupo conta com 38 mulheres, das 80 necessárias para a Avenida. O único requisito para se candidatar é vestir manequim a partir de 44.

Entre estreantes e veteranas - Karin, por exemplo, faz parte do Carnaval há 30 anos - o clima de carinho e apoio entre elas é sentido de longe. "Nos reunimos em prol de um só objetivo: mostrar que o samba não tem padrão. Muitas tinham vergonha do próprio corpo. Hoje se transformaram", contou Karin.

Simone Medeiros conta que vaidade aumentou depois de entrar para a Paraíso do Tuiuti - Alexandre Brum / Agência O Dia

A confeiteira Lívia Lima, de 29 anos, é uma delas. Após ter dois filhos, ganhou peso e junto veio a depressão. "Não queria mais ver a Lívia que estava no espelho. Quando encontrei o projeto foi uma mudança. O samba me deu poder. Eu sou bonita, está aqui dentro!", orgulha-se ela, que veste manequim 54 e vai realizar o sonho de desfilar.

Segundo Nilma Duarte, de 46 anos, idealizadora do projeto 'Plus no Samba RJ' e diretora da ala, a Tuiuti é, até agora, a única escola do Grupo Especial a montar ala plus size. "Existia essa carência, os gordinhos sempre desfilaram, mas de forma muito anônima, colocados no final", pontuou. "É um trabalho diferenciado e lindo. Existe um fundo psicológico, o brilho nos olhos quando elas se maquiam e colocam um salto. Tem 'gordelícia' no Carnaval sim!".

Integrantes do projeto Plus no Samba destacam a valorização da autoestima da mulher - Alexandre Brum / Agência O Dia

Simone Medeiros, de 36 anos, se divide entre a função de técnica de enfermagem e os ensaios da Azul e Amarelo. Para ela, o medo era virar chacota do público. "Mas foi o contrário, quando passamos são gritos eufóricos. As pessoas não sabem do que os gordinhos são capazes e quando veem, surge o respeito", disse.

Diretor de Carnaval da Tuiuti, Rodrigo Soares enfatizou que o intuito da agremiação é acabar com qualquer discriminação. "O fato de serem plus não inviabiliza que mostrem a beleza para todos, elas nos ajudam como escola. Venham se inscrever porque o desfile de 2019 promete", convidou ele. O enredo deste ano, 'O Salvador da Pátria', trata sobre um bode que foi "eleito" vereador no Ceará, e criticará rumos da política.

09/01/2019 - Dominical / Especial sobre ala Plus Size da escola de Samba GRES Paraíso do Tuiuti. Na imagem, Alessandra Elisiar (c/ prótese) com a filha Ingrid Elisiar, ambas integrantes da ala Plus Size, na quadra da agremiação. Foto de Alexandre Brum / Agência O Dia - CIDADE CARNAVAL CULTURA ARTE ENTRETENIMENTO SAMBA AGREMIAÇÕES DESFILE MULHER BELEZA PESO OBESIDADE GORDO GORDA FANTASIA. Alexandre Brum / Agência O Dia - Alexandre Brum / Agência O Dia

EXEMPLO PARA OUTRAS MULHERES

Apaixonada pela folia desde criança, Aline Faria, 29, vai desfilar pelo segundo ano na ala plus e já está ansiosa. "Me sinto representando todas as meninas que têm vergonha. Espero que o projeto abra caminhos para que mais mulheres cheguem, e que outras escolas possam aderir".

O sentimento é compartilhado por Alessandra Elisiar, 44, que usa uma prótese na perna esquerda após um câncer ósseo, em 2013. "Já sofri muito preconceito e humilhação. Hoje, vejo que todas temos beleza", contou ela, que participa da ala junto a filha Ingrid, 21. "O projeto estimulou minha vaidade", disse a jovem, de manequim 50. "Viemos para mostrar que vamos sambar sim, goste ou não, e vamos arrasar", reforçou Aline.

*Estagiária sob supervisão de Angélica Fernandes

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