Rio - Lembrada pelos enredos irreverentes, a simpática Caprichosos de Pilares corre o risco de nunca mais pisar na Avenida. Por falta de representantes legais junto à Liesb — a Liga Independente das Escolas de Samba do Brasil, organizadora das séries B, C e D do Carnaval do Rio —, a agremiação foi proibida de desfilar, este ano, na Estrada Intendente Magalhães, em Campinho. "A Caprichosos vem definhando há bastante tempo. Desde 2016, quando caiu da Série A para a B. Ano passado, já não desfilou. Estava na C e caiu para a D. Este ano, vai cair para a E", sentenciou o presidente da Liesb, Gustavo Barros.
O futuro sombrio preocupa os apaixonados torcedores. Se ano que vem, na Série E, a escola descer de novo, simplesmente sai da cena do Carnaval. "Não é bem rebaixamento, a gente chama de purgatório", explica Gilberto Leão, presidente da ACAS (Associação Cultural Amigos do Samba), responsável pela Série E. Segundo ele, em todas as edições, as cinco últimas colocadas no desfile são mandadas para o purgatório. "Só podem voltar a desfilar depois de dois anos", avisa.
Disputa interna
A Caprichosos enfrenta uma disputa política antropofágica desde 2011. Um grupo acusa o outro de fraudar eleições e desviar recursos. Desde então, nenhuma facção vitoriosa teve sossego para administrar a agremiação, pois as sentenças judiciais, a maioria delas provisórias, vão anulando sucessivamente os resultados das urnas. Hoje, ninguém sabe quem está no comando. "A tristeza é ver a Caprichosos sem ensaio, sem nada", lastima Jefferson Rocha, presidente da Inocentes da Caprichosos, a escola mirim da Azul e Branco de Pilares, que se mantém em atividade.
Para se ter noção do tamanho da queda, as escolas do Grupo Especial vão receber R$ 500 mil de subvenção da Prefeitura do Rio este ano. As da Série D, grupo da Caprichosos, ganharão R$ 15 mil. E, para tornar a situação mais dramática, é bom saber que na Série E, onde a Caprichosos deverá aportar em 2020, o valor da ajuda de custo é zero. "Ainda não conseguimos negociar com o governo municipal", justifica o presidente da ACAS. De acordo com Leão, na Série E, o Carnaval é feito com material reciclado. "As escolas maiores (Grupo Especial e Série A) doam o que foi usado na folia passada".
Se o estrago financeiro é grande, o emocional é inestimável. Que o diga Fernanda de Araújo, 37, que deveria ter sido a última porta-bandeira da agremiação. "Eu desfilaria em 2018, mas acabou que a gente não foi", lembra. "A Caprichosos é a minha única escola de coração. É triste você ver anos de história indo pelo ralo. Você vê as pessoas que dividem o mesmo amor se frustrando, querendo fazer alguma coisa e não podendo", lamenta a porta-bandeira.
"O meu maior medo, caso a escola não consiga se resolver politicamente, é que a Caprichosos caia no esquecimento e que a nova geração de sambistas duvide que ela um dia existiu", desabafa Fábio da Silva, o Fabinho Caprichosos, cuja família se formou na Azul e Branco de Pilares. "Meu avô, seu Nicinho, é um dos fundadores e conheceu a minha avó lá. Minha mãe, Selma da Silva, me levou para a quadra quando eu tinha seis meses", conta Fábio.
Mas o samba resiste. "A nossa agremiação, infelizmente, está se acabando, mas a nossa história não vai ser apagada", garante Jorge Eduardo dos Santos, o Eduardo da Caprichosos. Ele fundou o 'Respeitem Nossa História em Pilares (RNHP)', com ex-integrantes da bateria e a ala dos compositores. "É um bloco carnavalesco cuja ideia é manter acesa a chama da paixão pela Caprichosos de Pilares".