Cid Carvalho, carnavalesco da Beija-Flor, adianta algumas novidades do desfile deste ano - Armando Paiva
Cid Carvalho, carnavalesco da Beija-Flor, adianta algumas novidades do desfile deste anoArmando Paiva
Por Luana Dandara*

Rio - Para comemorar seus 70 anos, a Beija-Flor, atual campeã do Grupo Especial, vai revisitar sua própria história neste Carnaval. Mas o desfile promete fugir do óbvio: a escola usará fábulas infantis para lembrar as personalidades homenageadas, enredos africanos, e, claro, as críticas sociais, como aconteceu em 1979 com 'Ratos e urubus, larguem minha fantasia', quando apresentou um Cristo proibido na Avenida. Desta vez, a agremiação vai colocar o público para refletir até sobre a tragédia de Brumadinho, e abusará da tecnologia nas alegorias.

Um dos carros, a 'Assembleia dos ratos', promete impactar a plateia. "A alegoria trará um panorama de situações que acontecem o tempo todo, como as soluções que tentaram dar para a cidade de Mariana, e agora Brumadinho. Vamos levantar perguntas para que o público reflita e chegue às suas próprias conclusões", disse o diretor artístico e integrante da comissão de Carnaval, Marcelo Misailidis.

O primeiro setor lembrará os enredos de temáticas infantis. Na sequência, a fauna, flora e cultura do Brasil ganham vez com a fábula 'A raposa e as uvas'. Misailidis destaca que a proposta não é repetir alegorias antigas. "Isso bastaria uma pesquisa quase arqueológica de recorte e colagem em cima dos carros".

Na terceira fábula, um carro terá um cesto de ovos de arame gigante para falar sobre 'A galinha dos ovos de ouro'. A estrutura abrirá na Avenida, enquanto um beija-flor quebrará três ovos, de onde sairão homens negros, uma alusão à escravidão, época do Ouro Negro. Já Roberto Carlos, Boni, Sayão, e outros homenageados pela escola em anos anteriores serão lembrados em uma alegoria de 15 metros de altura que representará a fábula 'A cigarra e a formiga'.

Rio,28/01/2019 - Carnavalesco da Beija Flor - Carnavalesco da Beija Flor Marcelo Misailidis, Cidade do Samba, zona portuária do Rio de Janeiro. Foto: Armando Paiva/ Agência O Dia Carnaval, Carnavalesco, Beija Flor - Armando Paiva

Este será o primeiro desfile da Azul e Branca sem Laíla, presente em 13 dos 14 títulos da agremiação. O diretor de Carnaval, conhecido pelo pulso forte e organização, decidiu trocar de casa após desentendimento com dirigentes. Mas na agremiação de Nilópolis essa disciplina 'a la Laíla' parece fazer falta, pois na última semana nenhuma das cinco alegorias estava pronta, a um mês do espetáculo.

A Beija-Flor nega atrasos. "Está tudo encaminhado. As partes mais complexas, do movimento dos carros, foram finalizadas. Estamos dentro do prazo. Enquanto houver tempo vamos dar os retoques", contou Marcelo, adiantando algumas surpresas: "Todos os carros têm movimentos, em alguns casos a ambientação cenográfica muda. O enfoque artístico do ano passado, voltado pro sentido do espetáculo, tende a ser potencializado neste ano. As cenas terão um lado de comédia, para interagir com crianças e adultos".

O orçamento reduzido também é assunto recorrente na campeã, que diminuiu o número de equipes artísticas, o volume de materiais e até a quantidade de alegorias, de seis para cinco. "A verba oferecida não mantém 1/4 do custo de qualquer Carnaval, mantendo os padrões de qualidade. O que está bancando até agora é a verba de direitos de imagem a própria venda de ingressos", criticou Misailidis.

O carnavalesco Cid Carvalho ressaltou que a agremiação tem buscado uma proposta mais clara para chamar os jovens. "Estamos trabalhando de segunda a segunda, pois a crise não é um mero discurso. É uma escola muito séria". 

* Estagiária sob supervisão de Angélica Fernandes

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