Últimos retoques: trabalho no barracão da escola está a todo vapor - Armando Paiva
Últimos retoques: trabalho no barracão da escola está a todo vaporArmando Paiva
Por *Luana Dandara

Rio - Em 1924, a pintora Tarsila do Amaral fez uma visita à Madureira. Lá encontrou a réplica de uma Torre Eiffel construída pelo comerciante e cenógrafo José da Costa para promover o Carnaval do subúrbio. A curiosa cena inspirou o quadro da artista 'Carnaval em Madureira', que será fielmente recriado pela Portela no desfile de segunda-feira. A alegoria, com 11 metros de altura, mostra a paisagem do bairro, e lembrará a relação do local com Clara Nunes, a grande estrela do enredo da Azul e Branca este ano, para a felicidade dos portelenses.

Em seu segundo ano consecutivo na agremiação, a carnavalesca Rosa Magalhães investiu em uma estética detalhista e sensível. "A Portela tinha apenas um ano quando o quadro foi pintado, e já era um Carnaval pujante", pontuou ela. "É um grande desafio fazer esse enredo que é um pedido da nação portelense", complementou. Da religiosidade da cantora à profissão de tecelã, a trajetória da sabiá será ressaltada junto à sua brasilidade.

No abre-alas, a inspiração veio do disco da artista de 1981. Bem colorido e repleto de pássaros e araras, trará os ícones da escola Tia Surica e Monarco. Outro carro recriará uma igreja de Minas Gerais, cidade onde Clara nasceu. "Representa o barroco de Minas, a religiosidade católica da Clara", contou Rosa. A atriz Glória Pires e o músico Orlando Morais virão como os pais da artista.

Outro setor do desfile falará sobre a fé no candomblé. "Foi quando ela se descobriu espiritualmente filha de Ogum com Iansã, como se dizia", explicou a carnavalesca, que começou a pesquisa sobre a biografia de Clara Nunes em maio, debruçada em livros, materiais de pesquisa e relatos.

No encerramento, a ligação da cantora com a Portela será ressaltada, e amigos de Clara desfilarão no carro alegórico, inclusive a mangueirense Alcione, além de Teresa Cristina, Roberta Sá e Maria Rita. Falecida em 1983, Clara foi velada na escola, e atualmente dá nome a rua da quadra de samba.

Em relação à questão financeira, Rosa não esconde o incômodo com os cortes de verbas. "Nos últimos 20 anos é o Carnaval mais difícil. Com todas as dificuldades que estamos passando, fazemos da melhor maneira possível. Ainda é uma incógnita como a Portela virá".

O presidente da agremiação, Luis Carlos Magalhães, aposta no público para a entrada na Sapucaí. "Eu nunca vi isso que está acontecendo na quadra, a empolgação, a energia. Nós fomos muito felizes em escolher esse enredo", comemorou. "Será um desfile da linha tradicional da Portela com a marca sensível da Rosa".

'Tudo pra ganhar'

A comoção em homenagear Clara Nunes ultrapassou os limites da Portela. Tanto que a estudante Joice Martins, de 20 anos, vai desfilar pela primeira vez na Sapucaí. "Eu prometi que quando a Clara fosse enredo eu desfilaria. Já era a hora de um enredo sobre ela", afirmou. "Clara é carisma, é alegria e inspiração. A Portela tem tudo pra ganhar. O samba emociona", apontou a jovem fã.

*Estagiária sob supervisão de Angélica Fernandes

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