Compositores Helinho 107 e Nono Carvalho com o intérprete de samba enredo da agremiação - Divulgação
Compositores Helinho 107 e Nono Carvalho com o intérprete de samba enredo da agremiaçãoDivulgação
Por *Aline da Mata

Rio - Há 29 anos, os compositores da São Clemente Helinho 107, Nino Carvalho, Chocolate e Mais Velho aproveitaram a sugestão de dois carnavalescos da escola e fizeram um samba com críticas às mudanças na forma de fazer carnaval. Os compositores ganharam a disputa de sambas na escola e ficaram em sexto lugar no carnaval do Grupo Especial daquele ano. "E o Samba Sambou" foi a melhor pontuação obtida pela agremiação até hoje  - uma das razões para ganhar uma reedição no desfile deste ano. 

Mas não a única. Segundo Helinho 107, o carnaval se tornou um negócio, o que enfraquece suas tradições e mantém a atualidade da letra, uma das mais críticas entre os sambas-enredo afiados que a escola lançou nos anos 1980 e 1990. Ele critica a posição das agremiações que vendem seus espaços e não valorizam as raízes. “Acho que as escolas de um modo geral passam por uma desvalorização do samba pelo poder de quem dá mais. Acho que a maior estrela do espetáculo deve ser a instituição. E ela perde a identidade em função dessa comercialização”, disse o compositor. 

A São Clemente será a primeira a desfilar na segunda-feira de carnaval na disputa do grupo especial. Este ano a bateria vai apresentar um samba diferente, pois preservou algumas divisões na melodia para lembrar a cadência do sucesso que fez em 1990. Segundo Helinho, as críticas feitas há quase três décadas ainda cabem no carnaval 2019. “Eu acho que a escolas perdem o bom sensoao administrar correndo atrás de investimento e apoiadores na nossa letra também fala isso: 'Carnavalescos e destaques vaidosos, dirigentes poderosos criam tanta confusão'. Quer dizer, será que o trunfo não é manter a tradição?”, questiona.

O compositor lembra que, no início dos anos 1980, a principal disputa era entre quatro escolas: Mangueira, Salgueiro Portela e Império Serrano. Depois,  outras agremiações introduziram novidades que transformaram o espetáculo. Ele lembra que a Beija-Flor revolucionou o desfile com a "mágica" de Joãosinho Trinta e outras escolas seguiram esse ritmo. “A maneira de se fazer carnaval foi mudando. Alguns conceitos se adaptaram a novos valores, e no meio disso tudo o samba foi perdendo a sua tradição. Eu vejo gente falando que os desfiles parecem todos a mesma coisa. Até o samba está mais acelerado”, reclama.

“É claro que novas tecnologias devem ser absorvidas, mas a engrenagem que faz parte desse motor está na criação. Me sinto muito mal em ver camarotes fechados com pessoas ricas de costas para a avenida, ouvindo música sertaneja e eletrônica durante o desfile. A comunidade tem amor à escola. Ela não vive só daquilo. Ela vive do seu dia a dia, do seu trabalho, da sua ralação.”

* Estagiária sob a supervisão de Ricardo Calazans

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