Da esquerda para direita: João Vitor Araújo, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Jack Vasconcelos, Leandro Vieira, Tarcísio Zanon, Jorge Silveira e Edson Pereira  - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Da esquerda para direita: João Vitor Araújo, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Jack Vasconcelos, Leandro Vieira, Tarcísio Zanon, Jorge Silveira e Edson Pereira Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por *Luana Dandara

Quando a Mangueira contratou, em 2016, um carnavalesco que havia assinado apenas um desfile na Série A, o mundo do samba viu com temor a ousada aposta. Quatro anos depois, com a conquista de dois campeonatos por Leandro Vieira, de 35 anos, a escolha de profissionais em ascensão é tendência para 2020. Oito novatos, no conjunto das 13 agremiações da elite do Carnaval, prometem modernizar o espetáculo na Marquês de Sapucaí no ano que vem.

Enquanto a Grande Rio optou pela dupla Gabriel Haddad, 30 anos, e Leonardo Bora, 32, vindos da Acadêmicos do Cubango, em substituição ao casal premiadíssimo Renato e Márcia Lage, a Mocidade trouxe para seu time Jack Vasconcelos, de 41. Responsável pelo vice-campeonato da Paraíso do Tuiuti em 2018, e com quatro anos de experiência no Grupo Especial, Jack entra no lugar de Alexandre Louzada, detentor de cinco títulos apenas no Rio. Além do costume em abusar da criatividade e reaproveitar materiais, munidos de baixo orçamento, a nova geração do Carnaval coloca como prioridade o desenvolvimento de enredos culturais, e não apenas o impacto visual da festa.

Para Vieira, ainda sem renovação com a Verde e Rosa e disputado no mercado, a escolha tem ligação com a crise financeira que o setor atravessa. "A falta de dinheiro destaca o talento. Arte para dirigente de escola de samba é a que cabe no bolso. E a capacidade de adaptação de quem vem do Acesso é maior, são profissionais que sabem driblar a falta de materiais com criatividade", pontuou. Jorge Silveira, 38, da São Clemente, discorda. "Conquistamos merecidamente esse espaço. Apesar da maioria ter pouco tempo assinando desfiles, todos trabalham há anos servindo a vários carnavalescos", disse ele, que fará seu terceiro trabalho na Preta e Amarela.

Dinamismo e competição

"Mais do que uma tendência, é uma renovação natural. Cada ano, o espetáculo se oxigena de uma forma. Este ano se direciona aos dirigentes artísticos. O Carnaval precisa disso para ser dinâmico e competitivo novamente", considerou Edson Pereira, 41, carnavalesco da Vila Isabel. Há quatro anos no Especial, ele continuará na agremiação de Noel na próxima temporada. "Ele superou as expectativas, é muito capacitado. Sou favorável às mudanças, o profissional que vem do Acesso reduz os gastos das escolas com qualidade de trabalho. É saber olhar os melhores do Acesso e pinçá-los", defendeu o presidente da Vila Fernando Fernandes.

A Estácio de Sá, que sobe da Série A, decidiu manter pelo sexto ano Tarcísio Zanon, 32, no comando de seu desfile. "São carnavais cada vez mais conceituais e menos ricos, de fácil comunicação com o público. E o povo está abraçando e acolhendo o que vê. Utilizamos a reciclagem e criatividade ao invés do luxo e glamour", afirmou o profissional. Vice-presidente da escola, Nelson Souza apontou a ousadia de Zanon como diferencial. "É o momento de valorizar quem nos ajudou no momento mais difícil".

Já João Vitor Araújo, 33, assume lugar na Paraíso do Tuiuti, vindo da Unidos de Padre Miguel. "Todos que chegaram agora têm a vontade de fazer o melhor, nem que pra isso a gente pinte com as próprias mãos uma escultura", contou Araújo. "A gente pensa o Carnaval como uma manifestação mais cultural, é outra visão que não apenas o entretenimento puro, a beleza pela beleza", esclareceu Jack Vasconcelos.

Medalhões sem casa

No troca-troca das agremiações, Louzada e Rosa Magalhães ainda estão sem definição de futuro. A Portela contratou o casal Lage para a função. "Alguns carnavalescos são grifes. As escolas estão experimentando coisas novas, mas grifes nunca saem de moda. A minha visão de boa contribuição para o Carnaval é me aproximar de Renato Lage e Rosa Magalhães", reconheceu Leandro Vieira, que foi acompanhado pelos outros sete. "Temos muito respeito pelo legado", reiteirou João Vitor.

"Não é uma questão dos novos substituírem o que está obsoleto, muito longe disso. A gente bebe na fonte deles, são nossos professores e incentivadores", disse Jack, que acrescentou: "É uma honra substituir o Louzada, ainda mais na Mocidade que tem um histórico incrível e torcida apaixonadíssima, e para conduzir um enredo sobre Elza Soares, esperado há mais de uma década. São muitos aditivos para essa nova empreitada".

De acordo com o especialista Aydano André Motta, o Carnaval passa por uma "eterna renovação". "Eles sempre vão ter seu lugar, pois são profissionais com experiência inestimável. É apenas uma circunstância de mercado".

Leonardo e Gabriel assumem lugar do casal Lage na Grande Rio. "Grande responsabilidade", disse Haddad - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Grande Rio busca nova linguagem

Depois de dois desfiles na Série A, Gabriel Haddad e Leonardo Bora despontaram rapidamente para o Especial e vão assinar o próximo Carnaval pela agremiação de Caxias. Segundo Thiago Monteiro, diretor de Carnaval da Grande Rio, a mudança visa uma nova linguagem. "A escola busca uma conexão com a jovialidade, e eles fazem parte desse processo que começamos ano passado. Temos grande respeito e gratidão ao casal Lage, mas optamos por uma pegada mais artesanal e cultural nesse momento", afirmou.

Haddad, que começou a carreira na defesa de enredos na Mangueira, encontrou o paranaense Leonardo há sete anos, e iniciaram juntos o trabalho na Intendente Magalhães. "Foi uma surpresa maravilhosa. A resistência ao novo está menor. Existem muitos carnavalescos ainda à margem, que só precisam dessa oportunidade pra mostrar seu trabalho", assinalou Bora. "É uma loucura substituir um ídolo nosso, entretanto estamos confiantes nessa reviravolta", completou Haddad.

"Entendemos a escola de samba como um potente veículo de comunicação, de formação cultural e debate. E encaramos essa oportunidade de desenvolver um grande enredo que reconecte a Grande Rio com a base comunitária que ela tem", ponderou Leonardo.

*Estagiária sob supervisão de Angélica Fernandes

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