Rio de Janeiro 16/01/2020 - Dona Zilda de 101 anos visita a quadra do Salgueiro. Foto: Luciano Belford/Agência O Dia - Luciano Belford
Rio de Janeiro 16/01/2020 - Dona Zilda de 101 anos visita a quadra do Salgueiro. Foto: Luciano Belford/Agência O DiaLuciano Belford
Por O Dia

Zilda gosta de Carnaval. Quando criança, adorava se fantasiar de bailarina. Já pulou nos blocos da Tijuca e também nos clubes do mesmo bairro da Zona Norte. Neste ano, vai ver sua escola do coração, o Salgueiro, na Sapucaí, pela primeira vez. Era um dos sonhos dela. Zilda é uma foliã como tantas outras, não fosse por um detalhe: ela tem 101 anos.

"Não posso morrer antes de ver um desfile do Salgueiro". Foi com tal frase de efeito que dona Zilda chamou a atenção dos filhos para um fato que acabou passando despercebido ao longo do tempo: apesar de ser uma grande admiradora, ela nunca tinha visto a agremiação de perto. "Decidimos comprar o ingresso para o camarote, mas como estava em cima da hora só encontramos para a frisa", diz Pedro, um dos oito filhos da foliã centenária.

Nascida em Niterói, no dia 30 de novembro de 1918, Zilda Carvalho da Fonseca e Silva Elia se mudou com a família para a Tijuca aos 13, bairro onde permaneceu por 38 anos, até ir morar no Leme, em 1970. Naquela época, residia na Rua General Roca, próximo ao Morro do Salgueiro, local de onde saíam os blocos que dariam origem à escola de samba 20 anos mais tarde.

"Nosso grupo tinha um rapaz que não podia andar e ficava sempre sentado na porta da casa dele esperando os blocos passarem. Então, eles paravam e se apresentavam só pra ele. É claro que os vizinhos aproveitavam", diverte-se dona Zilda. "Sempre me impressionou muito a generosidade daquelas pessoas".

O presidente do Salgueiro, André Vaz, demonstra satisfação. "Saber da história da dona Zilda comoveu a todos. Isso aumenta a nossa responsabilidade junto a quem nutre esse amor, que é verdadeiro, pela nossa escola".

De outros carnavais: a menina Zilda
Mesmo morando em Niterói, dona Zilda já pulava o Carnaval no Rio. O avô materno era um famoso comerciante e costumava receber familiares nesse período, no sobrado onde funcionava a loja, na Rua do Ouvidor.Ela se recorda com carinho dos bailes: "Tinha concurso, era uma coisa diferente e interessante. Eu me fantasiava sempre de bailarina, achava bonito".O pai incentivava. "Uma vez, minha mãe resolveu nos levar para o sítio do meu avô, no interior, mas o meu pai chegou lá e disse: 'coitadas das crianças, é Carnaval'. E nos trouxe de volta".

Juventude sob vigilância
Curtir a folia com as amigas era uma das programações mais animadas, mas as famílias marcavam de perto. "As meninas não andavam sozinhas de jeito nenhum. Era pai, mãe, tio, irmão, todo mundo tomava conta. Não que nós fossemos diabos, mas a família era assim. Beijinho a gente dava escondido", revela.

Fôlego para pular o Carnaval nunca faltou. Torcedora do América, a jovem Zilda praticava natação, tendo conquistado várias medalhas nos clubes tijucanos."Só podia pular Carnaval junto depois de casada", recorda dona Zilda. Ela lembra ainda com carinho do marido, Hamilton Aluizio Elia, com quem se casou aos 19 anos.

"Era maravilhoso, um rapaz estudioso e muito bom. Pena que partiu cedo, com 63 anos". Hamilton era um dos professores de Português de maior prestígio na época.

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