"Se o Carnaval carioca fosse um jornal, a São Clemente seria a charge na capa". A frase estampada na sala do carnavalesco Jorge Silveira mostra o tom irônico e crítico que a Preta e Amarela quer levar para a Sapucaí neste ano. Focada em alcançar o Desfile das Campeãs, após anos amargurando baixas colocações no Carnaval, a agremiação de Botafogo fará uma passagem pela vigarice brasileira desde o período colonial até os dias atuais. Da venda de terrenos na lua até a má fé de religiosos, nada vai escapar das criativas alfinetadas.
No quarto setor, uma alegoria dividida em dois cenários vai lembrar a corrupção na política. Em um palanque, políticos se venderão "como a solução dos problemas", com o intuito de aplicarem golpes. Na parte de trás, o presídio de Bangu será retratado com direito a sala VIP. "Dos nossos últimos governadores, quatro tiveram uma passagem por lá. Eles serão lembrados", revela.
O humorista Marcelo Adnet, compositor do samba-enredo da escola, será destaque nesse carro. Nos bastidores, corre a informação que ele virá fantasiado como o presidente Jair Bolsonaro, mas a São Clemente mantém segredo.
"O Adnet me trouxe leituras que eu nem mesmo sabia que poderia ter do tema. A proposta é, desde o ano passado, resgatar a identidade crítica e irreverente da escola. Vamos mergulhar de cabeça nessa perspectiva. Isso é uma forma de se relacionar com a memória afetiva do carioca sobre a São Clemente, dos enredos dos anos 80 e 90", explica o carnavalesco.
O desfile será encerrado abordando as notícias falsas, em uma alegoria que terá o personagem Pinóquio e um grande smartphone. "O encerramento é uma máquina de fake news que elege o celular como um dos grande portadores das mentiras da atualidade. Hoje, a vigarice está na mão de todos que usam tecnologia", diz Silveira. Mas como um recado de esperança, o vigarista que abre o desfile da agremiação virá preso em uma gaiola no último setor. "Será como se ele estivesse pagando os pecados", destaca o profissional.