O dia a dia em comunidades estará retratado no carro abre-alas da escola da Ilha do Governador -  Ricardo Cassiano
O dia a dia em comunidades estará retratado no carro abre-alas da escola da Ilha do Governador Ricardo Cassiano
Por Luana Dandara

Em uma alegoria que medirá 60 metros de comprimento, a União da Ilha vai abrir o seu desfile com um retrato impecável de uma favela. Dos barracos aos mototáxis nas vielas, roupas para secar nas janelas, pipas e até uma escultura de uma lua, posicionada a 16 metros de altura, nada vai faltar na reprodução dessa comunidade, que poderia estar localizada em qualquer canto do Rio. A aposta de levar cenas do cotidiano carioca para a Sapucaí vem do experiente diretor de Carnaval Laíla, que estreia na agremiação.

O mestre, por sinal, levou também os carnavalescos Fran Sérgio e Cahê Rodrigues para assinarem o projeto. "É um enredo necessário. Vamos mostrar uma realidade nua e crua, mas ao mesmo tempo levantar uma mensagem de esperança. O nosso Carnaval será aberto com uma visão aérea de uma comunidade. No fim, faremos um convite para o público entrar nos becos, ruas e vielas e conhecer o que há de melhor ali", explica Cahê.

No segundo setor, a escola tratará a luta dos trabalhadores pelo ganha-pão, como motoristas de ônibus, garis e lavadeiras. A alegoria será um trem lotado de operários.

O setor seguinte botará o dedo na ferida nas mazelas sociais, como o caos na saúde e na educação. "Será também um pedido de paz para que os alunos possam ter o seu direito de ir e vir protegidos", pondera Cahê, sobre os recentes episódios de alunos atingidos por balas perdidas.

O povo que vive nas ruas e a balança social será a temática do quarto setor. "É um setor com grande carga emocional, atos coreografados que mostrarão uns com muitos e outros com nada", conta Fran.

Cahê Rodrigues destaca ainda que o enredo 'Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas, a sorte está lançada: salve-se quem puder!' tem muito da história do diretor de Carnaval, ex-Beija-Flor. "É um desfile que carrega uma história real de vida do Laíla. A gente se emociona em escutar ele falando desse Carnaval", diz ele.

Cahê Rodrigues e Fran Sérgio: os discípulos convidados pelo mestre Laíla - Fotos Ricardo Cassiano

Enredo valoriza a superação das dificuldades cotidianas
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O fio condutor do enredo da União da Ilha será uma mulher grávida, negra e moradora da favela, preocupada com o futuro do filho que está prestes a parir.
"Todos estamos vivendo em tempos difíceis. E isso não atinge só o morador de comunidade. É o medo de andar na rua, de sair para trabalhar sem saber se vai voltar, o desemprego", justifica Cahê.
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Apesar da carga dramática, a passagem da escola de samba pela Avenida será fechada com festa. No quinto e último setor, o morro desce para o asfalto. "É o dia que toda a comunidade se arruma, desce a ladeira para se encontrar na grande festa que é o desfile da Ilha", afirma Fran.
A grandiosa alegoria, com quatro andares e 14 esculturas, vai retratar um boteco da comunidade, sambistas, funkeiros e um verdadeiro churrasco na laje. "Independente dos problemas, pesos e fardos, esse povo também sabe se reconstruir, se reinventar, buscar a alegria em meio à tristeza", observa o carnavalesco Cahê Rodrigues.
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