Caderno D - Ensaio com a atriz Juliana Caldas,  a Estela de 'O Outro Lado do Paraíso'. Rj, 25 de abril. - Marcio Mercante / Agencia O Dia
Caderno D - Ensaio com a atriz Juliana Caldas, a Estela de 'O Outro Lado do Paraíso'. Rj, 25 de abril.Marcio Mercante / Agencia O Dia
Por BRUNNA CONDINI

Rio - Quando começou a posar para as fotos deste ensaio no Hotel Vila Galé, na Lapa, Centro do Rio, Juliana Caldas, a Estela de 'O Outro Lado do Paraíso', já entregou de cara o que prioriza ao se vestir: "Conforto!".

Convidamos a atriz para montar alguns looks para esta edição, assessorada pelo produtor de moda Rodrigo Barros. Ela não só topou como ainda trouxe peças exclusivas, feitas pela stylist Joventina Sousa, dona da marca Jô Divina.

"Adorei a proposta. Gosto de roupas bonitas, mas confortáveis. Também gosto de acompanhar as tendências e já me vesti desconfortável pra isso, mas não faço mais", conta.

No primeiro look, a paulista já se empoderou cheia de estilo num pretinho básico, com uma jaqueta jeans de acervo ("inseparável"). Nos pés, um par de tênis All Star. "Adoro. O legal, ainda mais no meu caso, é conhecer o próprio corpo. Meu quadril é mais largo, por exemplo. Então, como me conheço, entendo o que me achata, me alonga", ensina a atriz, que tem nanismo e mede 1,22 m. "O vestido preto que estou usando é maior atrás, se você reparar. Tenho o bumbum grande, então fazemos ele um pouco maior atrás, e acaba nivelando. A Joventina me veste com modelos que curto e conhece meu corpo".

PRIMEIRA NOVELA

Aos 31 anos, a estreante na TV conta que "se jogou" no desafio. "O Walcyr (Carrasco, autor) quis contar essa história do nanismo e da mãe que rejeitava a filha e tal. Mas é obvio que o espaço que foi dado, foi dado também pro meu trabalho como atriz. Ele foi muito corajoso de colocar o tema na Globo, no horário nobre", comenta.

"Nunca tinha feito novela, penei", diz, aos risos. "É muito difícil. Posso dizer que está sendo uma experiência muito rica. Aprendi muito", conclui ela, que é cria do teatro.

Na reta final da trama das 21h, Estela cuida da mãe, Sophia (Marieta Severo), que teve um AVC recentemente e sempre a rejeitou. Juliana admite que precisou pesquisar sobre rejeição, já que não viveu essa realidade. "A Estela se sentia por baixo. Ouvia que não valia nada, muito diferente da experiência da minha vida. Tive que me colocar no lugar dela para entender", lembra.

"Minha mãe morreu quando eu tinha 16 anos, mas tive uma criação amorosa. Ela sempre fortaleceu meu irmão Fernando, que também é pequeno, e eu. Criou a gente sem muitas adaptações, porque dizia que o mundo não facilitaria tanto. E frisava que ninguém é igual, todo mundo é diferente", conta sobre a mãe, que tinha a estatura normal. O pai da atriz também tem nanismo.

Juliana fala com alegria do primeiro trabalho na telinha e da parceria com Marieta Severo, sua mãe no folhetim.

"Quando começamos a preparação, antes da novela, tinha que criar laços com todos da família na ficção, menos com ela. Ela sabia que sofreria mais pra fazer as cenas. Marieta é mãezona, amorosa", entrega. "Depois, ficamos vacinadas. Conseguimos ouvir aquelas palavras cruéis e separar as personagens das atrizes. Marieta é um ser humano admirável como atriz, mãe, avó. Ela me contou do neto Francisco, filho da filha Helena com Carlinhos Brown, e diz que olha hoje e entende esse olhar do preconceito. Mesmo neste século, ele está aí. Construí um laço com ela".

ATRIZ

Juliana, que começou a carreira por acaso, fazendo um dos muitos trabalhos para pagar as contas, como personagem num parque, foi picada pelo 'bichinho da arte' e comemora o momento. "Mudei profissionalmente, ganhei. O que fica dessa novela é o que posso passar. Cada matéria que faço, como esta, mostra nossa realidade para várias pessoas. Dá visibilidade para vencer o preconceito. O que fica é gratidão".

E a atriz esclarece: "Não me incomoda falar do nanismo. Mas você não vê apresentarem a Thais Araújo, que admiro muito, como atriz negra, por exemplo, ou a atriz loura fulana. Você diz: a atriz fulana. Isso me incomoda, porque antes de tudo eu sou Juliana Caldas, atriz que, sim, tem nanismo. Mas isso não está em primeiro lugar. Me incomoda julgarem minha capacidade profissional pelo meu tamanho".

Juliana é doce e tem a fala potente dos que acreditam no que vivenciam. "Não me limito e não me deixo limitar. Também não planejo muito. Espero continuar trabalhando e ter outras oportunidades bacanas como essa. E que tantos outros também tenham. O Brasil precisa caminhar muito no respeito a diversidade, na questão da inclusão, mas isso está mudando", diz.

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