Rio, 28/06/2019, Sessão de fotos com a atriz Glamour Garcia, na foto Glamour Garcia, Foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia - fotos Gilvan de Souza
Rio, 28/06/2019, Sessão de fotos com a atriz Glamour Garcia, na foto Glamour Garcia, Foto de Gilvan de Souza / Agencia O Diafotos Gilvan de Souza
Por Juliana Pimenta

Rio - Ela chega e o ambiente muda. É instantâneo e não tem como voltar atrás. Ninguém consegue sair ileso de um encontro com ela e talvez esse seja o objetivo. Com 1,72m de altura, Glamour Garcia não passa despercebida. E nem quer passar. Ela fala, chora, brinca e ri. Tudo isso em alto volume e, quem sabe, ao mesmo tempo. A intérprete de Britney, de ‘A Dona do Pedaço’ é um mulherão que abala estruturas. E é bom ficar de olho, porque ela está só começando.

Atriz há 18 anos, a paulista de 30 anos comemora a primeira personagem na TV Globo e a recepção carinhosa que tem recebido do público. “Eu fico super emocionada, é muito lindo. Às vezes eu não consigo expressar tudo o que eu estou sentindo de tão emocionada que eu fico. E eu estou muito feliz, não só por mim, mas por também entender que a Britney tem sido um espaço de alegria e de amor”.

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Trans(formação)

Para Glamour, a personagem também trouxe a oportunidade de discutir um aspecto importante da sua vida: a transexualidade. “O fato em si dela ser trans já é uma grande discussão construtiva dentro da trama. A Britney é uma pessoa muito jovem, que volta da faculdade e consegue um emprego na área dela, o que também é uma temática muito importante. A inserção das pessoas trans no mercado de trabalho é uma discussão necessária. Infelizmente, a maior parte das pessoas trans ainda é miserável e participa de setores muito informais de profissão. Isso não tira a dignidade do trabalho de nenhuma dessas pessoas, mas o mercado de trabalho tem que se abrir para a capacidade e para a inteligência dessas pessoas. Até porque a gente sabe que o mercado está fechado por preconceito. E esse preconceito se transforma numa coisa muito pior, como a destituição de direitos, a violência de morte e a agressão sistemática no dia a dia”, destaca.

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A identificação como uma mulher trans, fez de Glamour uma militante da área dos direitos humanos. Para ela, a discussão dessa temática dentro e fora de cena pode garantir uma qualidade de vida maior à população transexual. “A Britney é um papel muito didático e ela vai viver barbaridades para que a sociedade pare para pensar. Então, é necessário lutar contra a injustiça social que existe em relação às pessoas LGBT. Porque ser trans é, praticamente, já nascer morto. A sociedade incentiva as pessoas trans à morte. E eu falo disso abertamente porque eu nunca tive tanto espaço para falar e é necessário que seja dito. As pessoas não terminam de estudar porque não conseguem, são perseguidas e sistematicamente agredidas. E as pessoas trans ainda são tidas como foco para essa violência, porque são vistas como aberrações e monstros. Eu não cheguei aonde eu cheguei não falando disso. A Britney existe sim para que haja uma discussão amorosa sobre esse assunto. É claro que, infelizmente, a sociedade é violenta, mas a gente está aqui em um papel de arte construtiva e a gente vai usar esse espaço para lutar contra todas essas injustiças”.

Duas famílias

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Glamour não deixa de destacar que o apoio da família ajudou a construir a mulher que ela é hoje. Apesar da falta de conhecimento acerca da transexualidade nos anos 1980, a atriz faz questão de dizer que se sente privilegiada pelo acolhimento e por todas as oportunidades que recebeu dos pais. “Eu sofri muito, mas eu sempre fui uma pessoa que tive o privilégio de ser eu mesma. Eu passei por muita coisa difícil, mesmo sendo branca e tendo uma boa condição financeira. A minha mãe é psiquiatra e sempre teve uma outra perspectiva da situação, mas mesmo assim ela mesma não entendia. Porque, na época, não havia abordagem disso. Eu fui a primeira trans que nós, como família, conhecemos. Eu fui a primeira pessoa trans com quem eu convivi durante muitos anos. Se eu não me engano, a primeira pessoa trans que eu conheci na minha vida, eu já tinha 20 anos”, lembra.

Além da família de sangue, a jovem atriz ganhou, nos últimos meses, uma nova família dentro da trama. Emocionada, Glamour chega a dizer que os colegas de elenco transformaram a sua vida. “Eu acho que já fiz amizade com todo mundo. Mas eu gosto de deixar bem claro o orgulho que eu tenho de estar trabalhando com Rosi Campos, Suely Franco, Betty Hoje eu sou outra atriz, não uma atriz melhor, mas uma atriz muito mais feliz depois de conviver com essas pessoas, que têm história, lutaram e foram literalmente feministas para chegar onde chegaram e ser quem são”, destaca.
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Galeria de Fotos

Rio, 28/06/2019, Sessão de fotos com a atriz Glamour Garcia, na foto Glamour Garcia, Foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia Gilvan de Souza / Agencia O Dia
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Rio, 28/06/2019, Sessão de fotos com a atriz Glamour Garcia, na foto Glamour Garcia, Foto de Gilvan de Souza / Agencia O Dia Gilvan de Souza / Agencia O Dia
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Shippados

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Outro ator que é alvo de muitos elogios é Pedro Carvalho, que faz o Abel, par romântico de Britney na novela. “O Pedro já se tornou o meu melhor amigo. Eu não tenho o que dizer da capacidade dele, do quanto ele está ali levando a cena para um lugar muito melhor. E tem também essa questão que todo mundo quer saber que é esse romance entre os personagens”.

Abel não sabe que Britney é uma mulher trans e se apaixona por ela. Na trama, há uma grande expectativa para o momento em que essa informação for revelada. Para Glamour, esse assunto deve ser tratado de uma forma extremamente cuidadosa. “O Abel ainda não percebe nada. No dia a dia não é uma questão perceptível mesmo. Por enquanto, a Britney está certa em se preservar. Porque quando se trata de amor, o buraco é mais embaixo, há o medo de rejeição e violência. Até acho que ela nem tem que contar. A pessoa não tem que falar nada só porque os outros querem”.

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Além de apoiar a personagem na decisão de fazer sigilo sobre a transexualidade, Glamour diz que fazia o mesmo, quando solteira. Hoje, casada com o produtor Gustavo Dagnese, o posicionamento ainda é o de preservação. “Eu nunca contei, independente do risco que se corre, porque o risco é grande. Eu mesma já perdi amigas em episódios como esse. Mas eu nunca contei, porque eu sou uma mulher e senti que esse era o meu direito. Eu não posso ficar me violentando por ser trans a todo momento. Por mais que pareça uma brincadeira, isso é nocivo, porque às vezes parece que tira um pouco o direito da mulher trans de ser mulher. Mas eu já passei muito por isso e é só ali na hora do ‘vamo ver’ que o povo vai saber”, brinca.

Mulher de verdade

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Sem ter feito a cirurgia de redesignação sexual, a atriz não se sente menos mulher do que ninguém. Inclusive, para Glamour, é libertador poder se sentir completa sem precisar que um procedimento a defina. “Mulher é mulher, não interessa se é trans ou se é cis. Cada corpo tem a sua especificidade. Eu não operei porque nesses últimos dez anos, desde que eu me tornei independente, eu não tive tempo e nem dinheiro. Mas hoje em dia isso não é uma coisa que me paralisa como me paralisava. Me sentia fraca, frágil, incapaz. Hoje é uma questão pessoal. Porque eu sou a mulher mais incrível do mundo como todas nós. Todas somos incríveis de ter a capacidade de ser quem somos e batalhar pelo que batalhamos”, completa.
 
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Créditos/Ensaio

Stylist: RODRIGO BARROS

Vestido lurex dourado
Vestido: Santa resistência
Salto: Vizzano
Joias: Ronnelly

Vestido branco
Vestido: Nx
Joias: Ronnelly
Salto: Arezzo

Saia azul com kimono
Saia e top : Nx
Kimono: Rio Summer
Bota: Arezzo
Jóias: Ronnelly
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