Gabi Vasconcellos - Juliana Pimenta Nogueira
Gabi VasconcellosJuliana Pimenta Nogueira
Por Juliana Pimenta

Gabi Vasconcellos tem 25 anos e mais de 45 mil seguidores em sua conta no Instagram (@gabivasconcellosv). No YouTube, passa dos 140 mil inscritos no seu canal. E esse sucesso nas redes sociais é resultado de um discurso que vai muito além das dicas de beleza. Gabi começou seu trabalho ensinando o seu público a usar maquiagem, dando dicas de moda e falando sobre cuidados com o cabelo. Com o tempo, as dicas de beleza acabaram se integrando ao discurso de comportamento e, com isso, Gabi vem ajudando muitas mulheres a se aceitarem e se amarem do jeito que são.

Por que você decidiu produzir conteúdo online?

Eu sempre fui muito ligada em internet, mas nunca levei muito a sério, era um hobby. Em 2010, passei por um período superdifícil e comecei a assistir vídeos de maquiagem como forma de me distrair. E o desejo de criar meu próprio canal foi crescendo. Criei o canal em 2014, mas só comecei a produção de conteúdo em 2015. E aí, já formada como jornalista, percebi que a produção de conteúdo para a internet preenchia uma parte que minha atuação no mercado não preenchia, que era poder falar de vários temas, começando com maquiagem e cabelo cacheado e chegando a feminismo, empoderamento, construção de autoestima e inteligência emocional, etc.

Nas suas redes sociais, você fala dos seus cachorros, do seu namorado e da sua rotina. Foi uma ideia sua abrir mais o seu dia a dia ou foi uma demanda do público?

Eu diria que foi uma demanda do stories. Pelo fato de ser jornalista, sempre trouxe uma linha editorial mais séria. Não sou de fazer vlogs, por exemplo. Mas o Instagram pede muito essa aproximação. Ainda assim, eu me acho realmente equilibrada, não fico compartilhando todos os momentos e separo muito bem a minha vida online da offline.

Você se sente uma blogueira que fala sobre cuidados com o cabelo ou vê sua produção de conteúdo atingindo temas mais amplos?

Cada vez mais eu me posiciono como alguém que não fala só sobre cabelo/beleza, mas que ao mesmo tempo entende a importância da estética do cabelo natural no meu discurso e, principalmente, para atingir o nicho que quero atingir.

Eu tenho 25 anos e meu público é majoritariamente mulheres de 24 a 44 anos. São pessoas mais velhas do que eu, que em geral alisam o cabelo por décadas e têm uma autoestima um tanto abalada. Muitas vezes são feministas, líderes dos seus lares, mas têm horror a esse termo, ou nunca pensaram sobre ele. Alcanço essas mulheres falando de estética, cabelo e maquiagem, mas aos poucos a gente está falando de autoestima, de relacionamento abusivo, da importância de ter inteligência emocional.

Qual a sua opinião sobre a transição capilar da Michelle Obama? Você vê uma resistência maior na aceitação das cacheadas negras por conta do racismo?

É complicado falar sobre esse assunto por uma questão de lugar de fala. As norte-americanas lidam com o cabelo de uma forma absolutamente diferente das brasileiras. Lá, elas têm menos costume de alisar definitivamente o cabelo. Mas a atitude da Michelle é muito importante enquanto líder. É uma defesa das raízes e da naturalidade que vai servir de exemplo para muita gente. E isso é o mais importante.

Quando a gente fala sobre "cabelo cacheado" dentro da produção de conteúdo, o racismo também mostra as caras. É fato que boa parte do público tende a se conectar e a engajar mais com pessoas brancas com o padrão de cacho "perfeito". Quem tem cabelo cacheado costuma agradar mais do que quem tem cabelo crespo. É algo perceptível e é racismo.

Você tem haters? Como lida com eles?

Eu diria que não, principalmente porque os 'haters' em geral são pessoas mais novas e que têm um tipo de relacionamento prévio com o influenciador, uma coisa semelhante à idolatria. Isso não acontece comigo. Minha relação com as seguidoras é mais real, faço questão de mostrar que sou como elas. É uma relação saudável e madura, sem muitas cobranças, eu diria. É claro que as críticas vêm, geralmente em posts publicitários. Mas não é ódio, na grande maioria das vezes são críticas que me fazem crescer.

O Instagram é considerado uma das principais ferramentas para a crescente ansiedade dos jovens. Como você vê essa 'imagem perfeita' vendida pelos blogueiros?

Modéstia à parte, eu considero meu trabalho bem importante também por isso, por mostrar que não rola essa vida perfeita. E também falo muito sobre evitar seguir influenciadores que são "vida perfeita", porque a comparação é inevitável e isso acaba nos fazendo mal. O Instagram é um recorte da nossa vida, e a vida perfeita vende. Rende mais publicidade, traz mais seguidores. É inspiracional. Mas também pode ser muito tóxico.

Para você, o que é uma mulher bonita? Você precisa se sentir bonita para estar feliz ou você precisa estar feliz para se sentir bonita?

Acho que os dois, risos. Uma mulher bonita, na minha opinião, é alguém que sabe se colocar, que é interessante, charmosa e autossuficiente. Fui, ao longo dos anos, desconstruindo vários dos padrões de beleza e passei a achar mais pessoas bonitas. Mas seria mentira se eu falasse que não me sinto infeliz quando acordo com o cabelo bem ruim ou quando, não sei, minhas olheiras estão ainda piores. Me sinto mais feliz quando me sinto bonita e vice-versa.

 

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