Dra Laura Garambone  - Divulgação
Dra Laura Garambone Divulgação
Por O Dia
Neste domingo, Dia das Mães, a coluna traz o relato da obstetra Laura Almeida Garambone, que mesmo em meio ao caos da saúde, continua trazendo novas vidas ao mundo, apoiando mulheres no precioso rito de passagem, que é a maternidade. Ao mesmo tempo, a médica conta como têm sido seus momentos de isolamento com os dois filhos, distante dos pais, num comparativo entre os dias de puerpério após o parto com a fase de isolamento social que todos estão vivenciando agora.
É tempo de “resguardo”
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* Texto da Dra. Laura Almeira Garambone
Há quase 40 dias, ou seja, o tempo que dura um puerpério, estamos em quarentena. Puerpério, para quem não conhece a expressão, é o período de “resguardo”, ou seja, o tempo entre o dia em que a mulher dá à luz até o momento em que já está liberada para a vida normal. E fico pensando em como é irônico que estejamos entrando no período em que esse resguardo acabaria, mas ainda não podemos sair.
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Não tenho do que reclamar. Como ginecologista e obstetra, continuo na ativa já que os bebês continuam a nascer e as mulheres continuam a engravidar. Ou seja, meu trabalho do dia a dia até reduziu, mas não acabou.
Mas tenho dois filhos, de 8 e 11 anos, e eles estão em casa, em homeschooling. E se por um lado tenho minhas crianças perto de mim, por outro não abracei meus pais no dia do meu aniversário e, provavelmente, não estarei com a minha mãe no Dia das Mães.
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Ou seja, ainda que continue trabalhando, não posso estar com todos que amo, igual a todo mundo. A diferença é que continuo partejando, atendendo virtualmente, e presencialmente em casos de urgência e pré-natal. E isso, confesso, tem ajudado a manter a minha mente sã. Por conta do meu trabalho ser essencial, continuo conseguindo cumprir meus compromissos profissionais e estou, inclusive, menos estressada.
Em casa, como toda mãe, tenho estado com meus filhos e participado da vida acadêmica deles - o que era impossível e não acontecia antes da quarentena. Estamos fazendo nossas refeições à mesa, rezamos antes de dormir e nos deitamos juntos. Para muitos, pode parecer que isso seja normal da vida materna. Mas para quem escolheu a medicina, não é - ou pelo menos não é para a imensa maioria dos médicos.
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Como todos, que já perceberam o perigo e a letalidade da covid-19, sinto medo de contrair o vírus ou perder algum ente querido. É um medo imenso, permanente e cortante. Meu coração fica dolorido todos os dias. Então, para tentar amenizar essa sensação, tenho tentado me segurar nos bons frutos que quero colher ao final disso tudo: um melhor relacionamento com os meus filhos, entender minhas prioridades reais e viver uma vida plena e feliz com quem amo e quero bem. E todos devemos pensar assim, em uma vida nova, como a de um bebê que acabou de nascer.
Que nós consigamos, quando esse “resguardo” acabar, nascer novamente.