Rio - Desde o início do isolamento, como se o aumento do número de mortos por coronavírus já não fosse preocupante o suficiente, o volume de denúncias de violência doméstica também deu um salto. De acordo com levantamento do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), os casos aumentaram em 50% desde março. No ar na reprise de 'Fina Estampa', na Globo, Dira Paes reconhece em Celeste, sua personagem, o drama vivido por muitas mulheres.
"Esse tema já foi importante naquela época e, infelizmente, ele continua atual e se tornou muito mais importante durante a pandemia. Porque não existe retrato mais aterrorizante do que estar confinada com o seu agressor", destaca Dira, que enxerga na dramaturgia o poder de ajudar as vítimas da vida real.
"Eu acho que a novela mostra uma mulher que supera esse momento. A novela faz com que as mulheres se sintam estimuladas a romper com esse ciclo de violência e acaba que, nesse sentido, a novela cumpre o seu papel social", defende a atriz, que pondera: "A Celeste é uma mulher brasileira que conseguiu superar um trauma muito duro, e eu vejo a mulher brasileira como uma heroína que consegue ter habilidade para lidar com tantas coisas ao mesmo tempo. Mas é importante frisar que essa heroína precisa de amparo. Ela precisa de uma rede de acolhimento e, além da família e dos amigos, existem muitas instituições que trabalham nesse sentido".
Rotina de isolamento
Sobre as múltiplas funções da mulher brasileira, Dira fala com propriedade. Isolada com os filhos Inácio, de 12 anos, e Martim, de 4, a atriz tem se desdobrado para entreter os meninos. "Tenho feito todos os personagens ao mesmo tempo: a mãe, a professora, a coleguinha que brinca de se sujar e rolar no chão, a que inventa brincadeira, a cozinheira. Enfim, todos os papéis em uma só pessoa. Não é fácil, mas é divertido. E a gente tem que aproveitar o momento da infância que é a coisa mais linda que existe. Nesse sentido, a gente está conseguindo vivenciar um momento que essas crianças jamais vão esquecer", diz.
A atriz faz o voto de que isso possa ser realidade também em outras famílias. "Eu torço para que todos consigam estar mais próximos das pessoas que amam o mais próximo possível, porque é muito bom amar e ser amado", declara Dira que, além das atividades dos meninos, tem se dedicado a outros talentos.
"Eu costumo dizer que o isolamento está servindo de lição para todos nós. No meu caso tem sido muito importante para eu organizar minha vida, minhas pendências, a minha casa. As coisas mudaram e é um momento de se ouvir. Talvez não seja o momento de tomar grandes decisões, mas é um momento de se ouvir. Eu tenho desenhado bastante, é uma coisa que gosto de fazer. Eu gosto de fazer desenhos livres, gosto de fazer rostos e tenho me exercitado nesse sentido. Fora devorar muitos filmes e ler muitos livros. E aproveitando para estar com a família", revela.
Planos interrompidos
Mas, apesar de estar no ar em 'Fina Estampa', Dira sente falta do trabalho. "Fiquei muito feliz com a volta da novela porque nesse momento de isolamento dá a sensação de que você está trabalhando, de que você está ativa", explica a atriz, que teve que adiar por um tempo o lançamento de novos trabalhos.
"Tinham vários projetos e agora a gente está entendendo como vai ser o desdobramento deles. Mas só esse semestre eu teria o lançamento de dois filmes: o 'Veneza', do Miguel Falabella, e o 'Pureza', do Renato Barbieri. Dois longas que eu me orgulho muito de ter participado. E tinham alguns festivais internacionais marcados para viajar com esses filmes. Eu espero que as coisas se restabeleçam e a gente consiga fazer ótimas estreias", almeja.
