Farpas à pré-candidatura de André Ceciliano ao Senado nas redes sociais.Divulgação
Ceciliano foi apadrinhado político de Jorge Picciani, que comandou a Alerj por uma década e morreu em 2021 após ser preso. Parece ter herdado dele a habilidade para, no jogo de bastidores, articular alianças e compor a maioria. O traço emedebista rendeu ao petista críticas internas no partido e dos militantes mais aguerridos. Mas também o transformou em uma espécie de fiador do governo estadual.
Ceciliano assumiu o comando do Palácio Tiradentes pela primeira vez em um mandato-tampão, em 2017. À época, ele ocupava o posto de segundo vice-presidente. Picciani, o então líder do Governo Edson Albertassi e o ex-presidente da Alerj Paulo Melo foram presos pelo braço da Lava-Jato no Rio. O primeiro vice, Wagner Montes (PRB), não pode exercer o cargo por muito tempo, por estar doente e se afastou. Morreria em janeiro de 2019. Ceciliano ainda no governo anterior assumiu o posto, a partir do qual construiria a maioria que o elegeria já na gestão de Wilson Witzel.
Com raízes na Baixada Fluminense, o petista nasceu em Nilópolis e morou em Japeri. Cresceu em Paracambi, cidade que comandou como prefeito por dois mandatos, entre 2001 e 2008.
A ligação com as cidades da Região Metropolitana do Rio é um ponto levantado por aliados do petista como trunfo na disputa pelo Senado neste ano. Ceciliano tem como base os eleitores da Baixada, enquanto o deputado Alessandro Molon (PSB), que disputa com ele a indicação de candidato a senador da aliança da esquerda no Rio, é mais forte entre os progressistas da zona sul carioca.
Ceciliano assumiu a Alerj em definitivo em fevereiro de 2019. Teve o apoio do então governador Wilson Witzel. Na época, foi eleito com 49 dos 70 votos, apesar da reduzida bancada petista. Isso não o impediu de comandar a maioria que derrubou Witzel por impeachment, quando as relações do Executivo com o Legislativo se deterioraram. Em fevereiro de 2021, Ceciliano foi reeleito com 64 votos favoráveis.
A proximidade com os governadores emedebistas Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, presos por denúncias de corrupção, rendeu a Ceciliano punições do próprio PT. A Executiva Regional do partido chegou a suspender os direitos partidários de Ceciliano, inclusive sua filiação, por seis meses. Foi depois que o petista apoiou o pacote de austeridade enviado por Pezão à Alerj. Na época, ele teve que responder à Comissão de Ética do partido por desobediência.
"Embora reconheçamos a fidelidade do deputado André Ceciliano ao PT, quando nos piores momentos e enquanto muitos fugiram com medo de defender o partido junto ao eleitorado e saíram por oportunismo eleitoral, não podemos concordar com suas posições a respeito do pacote submisso e neoliberal de Pezão", afirmou a sigla à época.
Na polêmica com Molon, uma das acusações que lhe fazem é de, na verdade, tentar abrir um atalho para apoiar o governador Cláudio Castro - seria o voto CastroLula ou LulaCastro. Seria, com sinal trocado, algo parecido com o que Picciani fez em 2014, com a chapa Aezão - Aécio Neves (PSDB) para presidente e Pezão para governador. Na época, o objetivo foi não apoiar o PT para a presidência, o que não é o caso de Ceciliano agora.
Investigação de rachadinha
Ceciliano foi alvo de investigações com base no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que revelou o escândalo de desvio de salário no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Na época, o documento mostrou movimentações atípicas de três pessoas ligadas a Ceciliano. Foram R$ 45 milhões, entre 2011 e 2017. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) não encontrou elementos contra o petista.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.