Na Penha Circular, na Zona Norte do Rio, mora Guilhermina Galvão, de 72 anos. Funcionária pública ainda na ativa, ela não abre mão do seu voto. “Eu faço parte da geração que batalhou para votar, por isso ainda voto e vou votar enquanto tiver forças, coragem e lucidez”, afirma.
Guilhermina relembra a primeira vez em que votou para presidente, em 1989, quando já tinha 40 anos de idade. “Me lembro perfeitamente que saí da seção, sentei no meio-fio e comecei a chorar”, conta emocionada.
Mesmo descontente com a política, Guilhermina não abre mão de seu voto e ainda incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo. “Nesse momento difícil que estamos passando, é através do voto que vamos mudar o país. Se você não vota, não escolhe, alguém escolhe por você. Aí não adianta reclamar depois”, adverte.
No outro canto do estado, no município de Queimados, mora a aposentada Anair Leandro de Oliveira, de 79 anos. Há cinco anos, Anair deixou de votar pelas dificuldades de acesso à Zona Eleitoral em que está inscrita.
“É muito difícil chegar lá, fica no alto de um morro e eu não aguento mais subir ladeira por causa de um problema na minha perna”, lamenta a aposentada. Ela conta que, por ela, continuaria a votar. Os filhos se ofereceram para levá-la de carro, mas Anair se recusa. “Não gosto de dar trabalho aos outros, então prefiro ficar em casa”, justifica.
Já Cleonice Souza Sant’Anna, moradora de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, abriu mão de vez de seu direito ao voto. Aos 78 anos, a doméstica aposentada se diz totalmente descrente com a política. “Eu já não acreditava naquelas caixas que a gente colocava o papel. Nessas maquininhas de agora, que a gente só aperta o botão, que eu não acredito mesmo”, relata Cleonice.
Mas seus motivos não param por aí. “Não acredito nesses políticos. Eles vêm aqui pra pedir voto e depois somem, fica tudo elas por elas”, reclama a aposentada.
As três fazem parte de um grupo de mais de dez milhões de idosos que podem votar facultativamente no país, mas que, muitas vezes, acabam não exercendo seus direitos políticos. Para mudar essa situação, a Justiça Eleitoral lançou, na última segunda-feira, 8, uma campanha em rede nacional de rádio e televisão, que incentiva o voto de pessoas com 70 anos ou mais.
A campanha transmite a seguinte mensagem: “Quem vota com ou depois dos 70 anos é mais que uma eleitora ou eleitor, é um exemplo de cidadania. Seja você o maior exemplo. A democracia agradece”.
Para o cientista político Andre Luiz Fayão, são muitas as razões que levam esse grupo de pessoas a não comparecerem às urnas. "Apesar dos estigmas e preconceitos sociais contra os idosos que fazem com que eles se vejam pouco incentivados a participar da vida política do país, eles ativos e acompanhem o que está acontecendo, tanto nos locais como nas redes sociais", explica.
Doutor em Psicossociologia, Fayão destaca que esse engajamento é mais fácil nos dias atuais devido aos avanços da tecnologia. "O mundo contemporâneo nos oferece ferramentas que permitem que os idosos continuem participando ativamente, não só da vida política, mas da social, apesar das dificuldades que aparecem com a idade, como cansaço e problemas de mobilidade", afirma.
Para o cientista político, a iniciativa da Justiça Eleitoral de realizar essa campanha é de grande importância para a democracia brasileira. "Se a campanha for bem feita, ela tem tudo para dar certo, mas é preciso que a mensagem chegue a essa população", conclui Fayão.
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