O primeiro debate na TV entre candidatos ao Palácio do Planalto será promovido neste domingo, 28, na Band, em parceria com a TV Cultura, o portal UOL e o jornal Folha de S.Paulo. Com início previsto para as 21h e sem a presença de plateia, o encontro deve contar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe D’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil). A polarização, protagonizada pelo petista e o candidato à reeleição, devem marcar o debate, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão.
Dentre os convidados, a presença do ex-presidente Lula e a do presidente Bolsonaro eram as mais incertas até este sábado, 27. No entanto, o petista, por meio de uma rede social, confirmou presença; a participação do chefe do Executivo foi confirmada ao Estadão pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira
Cientistas políticos ouvidos pelo Estadão disseram que o encontro deve ser marcado por uma atenção polarizada entre os principais adversários que lideram as pesquisas - Lula e Bolsonaro. A performance e desenvoltura dos dois candidatos será um dos focos do debate, uma vez que o petista não participa de eventos semelhantes desde 2006, enquanto o atual chefe do Executivo participou apenas de dois debates em 2018 antes do atentado que sofreu.
Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Cloves Oliveira, o debate funcionará como uma espécie de grande duelo. "Finalmente, teremos um encontro entre os dois principais competidores das eleições, como se fosse um grande duelo no qual cada um vai tentar apresentar os seus trunfos: um para tentar ganhar no primeiro turno, caso do ex-presidente Lula, e ou para tentar diminuir a intenção de votos do oponente, caso do presidente Bolsonaro", afirmou Oliveira.
Os organizações do encontro afirmaram que Lula e Bolsonaro foram sorteados para ficar lado a lado na disposição dos candidatos no estúdio. A performance e desenvoltura dos dois principais adversários serão analisadas de perto durante o debate. Para Oliveira, o ex-presidente petista tem vantagem nessa situação por estar na liderança nas pesquisas e ter técnicas de comunicação e posicionamento já conhecidas pelo eleitorado. "Lula tem condições de se posicionar como acima da briga, de ser mais propositivo e de se esquivar, de maneira mais efetiva, dos ataque dos seus oponentes", disse.
O cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que essa atenção polarizada será feita de duas formas, por meio dos questionamentos e provocações: direcionada a Lula e Bolsonaro por parte dos outros candidatos que ainda buscam tentar se posicionar em uma melhor condição e por parte dos próprios adversários principais, na tentativa de mirar no outro.
Já, para o presidente, estar em um debate televisivo pode ser mais desconfortável, segundo o cientista político Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. "Bolsonaro fica muito mais confortável no ambiente seguro das redes sociais em que controla as variáveis que podem influenciar", disse.
Oliveira, da UFBA, afirmou, ainda, que a tendência do candidato à reeleição é permanecer na defensiva. "Na ausência de argumentos para defender o legado do seu governo, a solução será desqualificar o seu opositor e também sempre que possível transferir essa responsabilidade sobre a gestão dos temas das políticas públicas para terceiros."
Ciro e Tebet
Os especialistas defendem que o esperado do candidato do PDT é que ele mantenha a mesma estratégia utilizada na entrevista do Jornal Nacional, que foi a de tecer crítica aos dois mais bem colocados nas pesquisas - Lula e Bolsonaro - e de se vender como uma alternativa para aqueles que não querem a continuidade de um ou a volta de outro. "A estratégia mais recomendada para Ciro é atacar o presidente Bolsonaro para buscar votos em um espaço do eleitorado mais de centro-direita que está flertando com o eleitorado de Bolsonaro", afirmou Oliveira.
A candidata Simone Tebet (MDB), assim como Ciro, deve se apresentar como uma terceira via. "A grande questão é que qualquer um ali que não seja Lula e Bolsonaro, portanto, qualquer representante da terceira via, vai ter de fazer todo um esforço discursivo de oratória no debate, mas sabe que a polarização os constrange. Ou seja, o corredor em que eles passar, especialmente Ciro e e Simone, é um corredor cada vez mais apertado pela dimensão da força dos dois candidatos", afirmou Prando.
Para Teixeira, pelo espaço televisivo ser bastante importante para o grande público, temas "espinhosos" podem vir à tona como corrupção, para o Lula, e a questão da gestão da covid-19, para o Bolsonaro. "Certamente volta também para o Bolsonaro o tema da corrupção e talvez um outro tema que seja a questão dos próprios filhos." O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) e até o próprio presidente tiveram seus nomes envolvidos em investigações de rachinhas em seus gabinetes
Segundo os cientistas políticos ouvidos pelo Estadão, outros temas podem ser esperados como economia, meio ambiente, educação e fome.
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