Bolsonaristas têm explorado vídeos de Ciro Gomes (PDT) com críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para atacar o petista nas redes sociais. As imagens já foram compartilhadas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (PL), e por ministros como Fábio Faria, das Comunicações, e o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional.
Em discurso, Ciro diz que Lula é quem "financia o gabinete do ódio mais picareta, mais desonesto de toda a história do Brasil" e que o PT se tornou "uma organização criminosa". Só no perfil do Twitter de Fábio Faria são mais 162 mil visualizações, 16 mil curtidas e 4,2 mil compartilhamentos até as 12h desta terça-feira, 13.
"Com a palavra, Ciro Gomes…", diz o ministro. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, iguala o PT ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e cita uma fala do pedetista: "Não podemos entregar a Presidência e o governo de São Paulo para essa gente".
Políticos como o deputado estadual Ricardo Arruda (PL-PR) e a deputada federal Bia Kicis (PL-DF), candidatos à reeleição, e páginas de direita e de apoio ao ministro da Economia Paulo Guedes ecoaram as publicações nas redes. Procurada, a campanha de Lula não quis se manifestar.
O objetivo dos bolsonaristas ao reproduzirem as falas de Ciro - um candidato da centro-esquerda - é tentar se aproximar de um eleitorado mais jovem, de centro e indeciso, segundo o diretor da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV (FGV ECMI), Marco Aurélio Ruediger. "Eles querem usar Ciro como uma testemunha ocular que viveu aquilo e se colocou contra. Mas essa estratégia não vai funcionar porque a polarização está em um grau absurdo", diz. Ciro foi ministro da Integração Nacional no governo de Lula, de 2003 a 2006.
Entre a opção de dois projetos políticos como o de Lula e o de Bolsonaro, Ruediger afirma que a tendência dos eleitores de centro é votarem no Lula, como "voto útil". "Nas redes, a gente vê um aumento crescente da interação do centro com a esquerda. A direita é mais engajada, mas tem dificuldade de penetrar em outras bolhas", diz.
O teor dos vídeos
Nas imagens, Ciro afirma que a polarização política se iniciou com Lula, não com Bolsonaro. "Quem inventou esse negócio de nós contra eles, estigmatizando o adversário, com a maior desonestidade, violência e truculência na política brasileira não foi o Bolsonaro. Bolsonaro é cria da cultura de ódio de Lula e do PT", diz o candidato. A gravação foi feita na CiroTV, um canal usado para divulgar a campanha do pedetista.
Ele ainda sugere que o petista tenha cometido atos de violência política contra Marina Silva (Rede), candidata à Câmara por São Paulo e ex-ministra do Meio Ambiente, e Heloísa Helena (Rede), também candidata à deputada federal. Nesta segunda-feira, 12, Marina declarou apoio a Lula.
"Todo mundo no Brasil, Lula, sabe o que você fez de desonesto, de cruel, de mentiroso, de odiento que o PT fez com sua ordem contra Marina Silva. Não é, não, Heloísa Helena? Que é que o Lula fez de violência política, de cultura de ódio, de mentira, de cangaceirismo?", diz.
Ciro ainda declara que, enquanto Lula "faz essa conversa mole de Lulinha paz e amor, financia o gabinete de ódio mais picareta, mais desonesto de toda a história do Brasil". "Portanto, Lula, você pode enganar aí algumas pessoas, mas, este aqui que lhe conhece de perto, não vai deixar você passar assim", afirma o candidato.
Em outro vídeo, compartilhado por general Heleno e Eduardo Bolsonaro, Ciro diz que Lula não pode ser eleito presidente de novo porque sabia do esquema de corrupção na Petrobras, revelado pela Lava Jato. "Não podemos entregar a Presidência da República e o governo de São Paulo para essa gente. A não ser que a gente queira ensinar para os nossos jovens e nossos filhos que roubar vale a pena", afirma.
O que diz Ciro
Em resposta ao uso do vídeo por aliados de Bolsonaro, Ciro admite que sua intenção "era mostrar ao povo brasileiro que o que causou esse fenômeno trágico do Bolsonaro é Lula".
"Bolsonaro era um deputado cretino, de baixo clero, que roubava dinheiro até da gasolina de seu gabinete, tinha funcionários fantasmas. Não tinha proposta. Por que foi eleito nessa proporção? Quem não tiver uma pedra no lugar do coração e um minhoca no lugar do cérebro sabe bem: foi o encontro terrível da mais grave crise econômica da história brasileira com o escândalo generalizado que o Lula transformou a corrupção no centro do seu modelo de poder", diz.
O pedetista afirma, ainda, que os petistas devem usar como "munição" aquilo que ele fala sobre Bolsonaro, assim como fizeram os bolsonaristas. Para Ciro, o presidente "é um desastre para o Brasil, um grande corrupto também, um fascista, um genocida". "Sou o único que processou Bolsonaro três vezes pedindo seu impeachment. Por que o Lula nunca fez um pedido de impeachment? Porque Lula que criou Bolsonaro."
Para Ruediger, da FGV, o candidato expõe certa ingenuidade. "A esquerda e a centro-esquerda que estão com Lula não vão repercutir o Ciro nas redes. O que elas ganham com isso? Nada. Elas têm uma liderança muito maior, que é o Lula", diz.
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