Comparação feita em postagem por magistrada foi meramente ilustrativa e não encontra respaldo na realidadeArte/Comprova

Brasil - As mortes por covid-19 não provocaram redução no número de seções eleitorais no Brasil, diferentemente do que pode ser interpretado a partir de postagens que viralizaram no Instagram e no Twitter. Apesar de a autora do conteúdo ter explicado que a comparação não correspondia a um dado oficial ou literal, e que fora traçada para “dimensionar a dor e as perdas”, houve internautas que entenderam o dado como real.*
Conclusão do Comprova: É enganoso que haja 2.450 seções eleitorais a menos nas eleições deste ano em decorrência das mortes por covid-19 no país, alegação feita em postagens no Instagram e no Twitter publicadas pela mesma pessoa em 26 de setembro. Pelo contrário, desde o último pleito nacional, que aconteceu em 2018, antes da pandemia, o Brasil ganhou 14.993 seções, crescimento de 3%, chegando a 496.856. Se comparado com as últimas eleições municipais, de 2020, o número também aumentou, em 2,7%, ou 13.191 seções a mais.

Em um tuíte complementando as publicações originais, a autora afirmou que não estava apresentando nenhuma estatística oficial. Tratava-se apenas, segundo ela, de uma maneira de “dimensionar o tamanho da nossa dor e do nosso luto” ao dividir o número de mortos pela covid-19 até então, corretamente arredondado para 686.000, por 280, que seria o número médio de eleitores em uma seção eleitoral.

Segundo o artigo 117 do Código Eleitoral, uma seção eleitoral não pode ter mais de 400 eleitores nas capitais ou 300 nas demais localidades. Para as eleições deste ano, com um eleitorado recorde de 156.454.011, o número médio de eleitores por seção eleitoral é 314.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 28 de setembro, a postagem tinha 48,5 mil curtidas no Twitter e 154.920 curtidas no Instagram. A publicação também foi mencionada em matéria da Rede Brasil Atual no dia 26.

O que diz o autor da publicação: Procurada pelo Comprova, a magistrada e escritora Andréa Pachá explicou: “O sentido não é literal. Dividi 686 mil mortos por 280, que é o número médio de eleitores por seção. Uma forma de dimensionar a dor e as perdas”. Em outro momento, acrescentou: “Às vezes, tenho dificuldade de lidar com a literalidade das redes. Espero ter conseguido sensibilizar pelo número inadmissível de perdas que tivemos”. A explicação aparece em uma outra postagem feita por ela.

Como verificamos: O Comprova verificou dados oficiais sobre as eleições de 2018 e de 2022 no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e sobre as mortes por covid-19 no painel do governo federal. Também foram consultadas a assessoria de imprensa do TSE e reportagens relacionadas ao recorde de registro de novos eleitores no pleito deste ano.

Seções eleitorais aumentaram no país
É enganoso que houve redução de seções eleitorais no Brasil nas eleições deste ano em relação ao pleito de 2018. Na verdade, o que se deu foi o oposto. Segundo dados do portal do TSE, o Brasil conta com 496.856 seções eleitorais atualmente. Já em 2018, foram 481.863. Portanto, houve uma alta de 3%.

O maior número de seções eleitorais reflete o aumento no número de brasileiros aptos a votar nestas eleições, cujo primeiro turno ocorre no próximo domingo (02/10). Atualmente, o Brasil tem 156.454.011 eleitores aptos a votar. Em 2018, eram 147.306.275.

Nas eleições de 2020, o número de seções eleitorais – 483.665 – também foi maior se comparado ao pleito de 2018.

Em maio deste ano, ao encerrar o cadastro eleitoral para as eleições de 2022, o TSE divulgou o registro de 2.042.817 novos títulos de eleitores entre jovens de 16 e 18 anos: marca histórica no país, segundo o tribunal. Já as mortes registradas por covid-19 no Brasil atingiram, até o dia 26 de setembro, 685.835 pessoas, conforme o painel do governo federal.

Segundo o artigo 117 do Código Eleitoral, uma seção eleitoral não pode ter mais de 400 eleitores nas capitais ou 300 nas demais localidades.

Procurado, o TSE respondeu que “não faz análise qualitativa acerca desses dados”.

Usuários interpretam dado como real
Embora a autora da postagem tenha explicado que a relação traçada entre mortes por covid-19 e a quantidade de seções eleitorais tenha sido meramente ilustrativa, alguns comentários demonstram que houve gente acreditando tratar-se de um dado real, como mostram os prints abaixo:
 Exemplos de postagens que demonstram que usuários interpretaram dado como real - Reprodução
Exemplos de postagens que demonstram que usuários interpretaram dado como realReprodução
 Exemplos de postagens que demonstram que usuários interpretaram dado como real - Reprodução
Exemplos de postagens que demonstram que usuários interpretaram dado como realReprodução
 Exemplos de postagens que demonstram que usuários interpretaram dado como real - Reprodução
Exemplos de postagens que demonstram que usuários interpretaram dado como realReprodução
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet e estão relacionados às eleições presidenciais deste ano, à pandemia da covid-19 ou às políticas públicas do governo federal. A postagem verificada, por citar um suposto dado relacionado às seções eleitorais do país, mesmo que hipotético, como explicou a autora da postagem, pode ocasionar dúvidas ou interpretações equivocadas em relação ao processo eleitoral em curso, ainda que não tenha sido essa a intenção da autora.

Outras checagens sobre o tema: Em relação às eleições, o Comprova mostrou, recentemente, ser falso que 70% do processo eleitoral seja terceirizado e que a terceirização comprometa a integridade das eleições, que um tuíte engana ao indicar o 17 como número de urna de Bolsonaro em 2022 e que é montagem post com suposta reportagem do G1 sobre Lula e Venezuela.
*Conteúdo investigado pelo DIA, Crusoé, CNN Brasil e Imirante.com. E verificado por Correio, Nexo, SBT, SBT News, O Popular, Estadão, Piauí e Grupo Sinos.