Jornais no exterior destacam que Bolsonaro evita reconhecer derrota para LulaEVARISTO SA / AFP

Brasília - Após mais de 40 horas da divulgação do resultado das eleições deste ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se pronunciou sobre a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O chefe do Executivo convocou uma coletiva de imprensa para a tarde desta terça-feira (1°) para comentar o assunto. Depois de mais de uma hora e meia de atraso, o mandatário falou por apenas 1 minuto e 46 segundos.
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Durante sua fala, Bolsonaro começou agradecendo aos 58 milhões de votos que recebeu e também afirmou que os bloqueios que estão acontecendo nas estradas são frutos da "indignação popular" com o resultado. O mandatário, que está sendo cobrado por empresários para pedir o fim dos atos, não os recriminou abertamente.
"Quero começar agradecendo aos 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no dia 30 de outubro. Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o resultado eleitoral. As manifestações são sempre bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser o da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, invasão de patrimônios e o cerceamento do direito de ir e vir. A direita surgiu de verdade em nosso país, nossa robusta representação no congresso, mostra a força dos nossos valores: Deus, Pátria, Família e Liberdade", disse.
No pronunciamento, Bolsonaro não citou o nome de Lula e nem o parabenizou pela vitória. O presidente também não se referiu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não reconheceu claramente o resultado, apesar de ter deixado implícito quando chegou ao falar "vão sentir saudades da gente".
Por fim, ele citou a bancada eleita por seu partido e afirmou que a direita se firmou no país. "Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso. Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático e ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas das constituições. (...) Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprido todos os mandamentos da Constituição", disse.
Ainda segundo Bolsonaro, é "uma honra ser o líder de milhares de brasileiros que defendem a liberdade econômica, religiosa e de opinião". Após o término da fala do mandatário, o Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmou que o presidente o autorizou, quando for provocado, com base na lei, a iniciar o processo de transição.
Bolsonaristas bloqueiam estradas em todo o país
Após a divulgação do resultado das eleições, diversos bolsonaristas iniciaram bloqueios em ao menos 20 estados. A manifestação segue acontecendo e atrapalhando o tráfego, mesmo com a determinação do ministro Alexandre de Moares, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que Polícia Rodoviária Federal (PRF) libere os locais. A determinação foi aprovada pela maioria dos ministros do STF e confirmada durante a manhã.
De acordo com boletim da PRF, durante a manhã, 271 vias estavam bloqueadas. Os protestos acontecem desde a madrugada de segunda-feira, 31, contra o resultado da eleição presidencial, na qual Lula venceu Bolsonaro com 50,9% dos votos, contra 49,1% do atual chefe de Estado.
No Rio, houve interdição total da BR-101, na altura do km 486, em Angra dos Reis; no km 197 da Dutra, em Queimados, onde haviam cerca de 60 manifestantes, com materiais inflamáveis, fogos e sinalizadores; na BR-101 Rio-Santos, o tráfego flui de forma parcial no Km 392 no Rio de Janeiro, e ocorre lentidão de um quilômetro em ambos os sentidos. Já em Paraty, no Km 533, o trânsito está bloqueado e provoca retenção de um quilômetro. A PRF informou ainda que, no Km 70, em Campos dos Goytacazes, um grupo de 60 pessoas atearam fogo em pneus e, no Km 75, há ainda outras 40 pessoas. Outros locais também foram obstruídos. 
Ainda tiveram interdições em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rondônia e Espírito Santo. De todos os locais citados, Bolsonaro perdeu apenas em Minas Gerais. Em Tocantins e Bahia, onde Lula venceu, houve apenas um bloqueio em cada.
Voos também foram afetados
Nesta segunda-feira (31), 12 voos foram cancelados e nesta manhã de terça-feira (1), até o momento, foram 13 voos cancelamentos. A Latam informou que bloqueios de importantes vias do Brasil tem causado "situação totalmente alheia ao seu controle, alguns de seus voos foram impactados".
Segundo informou a GRU Airport, concessionária responsável, os cancelamentos ocorreram devido a dificuldade de acesso dos tripulantes e passageiros até o aeroporto, causadas pelos bloqueios de caminhoneiros na Rodovia Hélio Smidt.