Por ESTADÃO CONTEÚDO

São Paulo - As circunstâncias que rodearam a eliminação do Santos na Libertadores fizeram com que o lateral-direito Victor Ferraz cogitasse abandonar o futebol. Foi o que o jogador revelou nesta quarta-feira, um dia depois o empate por 0 a 0 com o Independiente, que, graças à punição imposta pela Conmebol, tirou o time brasileiro nas oitavas de final da competição.

"Ontem, saindo de campo, andando pelo túnel do Pacaembu rumo ao vestiário, pela primeira vez na minha vida eu pensei em parar de jogar, me aposentar aos 30 anos de idade. Naquele momento, eu já sabia que seria eu o escolhido a dar a coletiva pós-jogo, e seria o momento perfeito para dar a notícia", escreveu em sua página no Instagram.

A frustração de Victor Ferraz e de tantos outros santistas foi causada pela decisão da Conmebol de dar a vitória no jogo de ida ao Independiente por 3 a 0, apesar do placar em campo ter sido 0 a 0. A entidade entendeu que o volante Carlos Sánchez foi escalado de forma irregular e, num imbróglio que foi encerrado somente horas antes da partida, definiu a punição.

"A atitude da Conmebol em 'praticamente' ceder a classificação ao Independiente foi algo inacreditável, inexplicável, e, de verdade, minha ficha ainda não caiu. Muitas vezes me pego pensando que ainda decidiremos essa vaga dentro de campo, como todos os outros times", comentou.

Com a decisão da entidade, o Santos precisaria vencer na terça por quatro gols de diferença. A missão quase impossível não foi alcançada e, a minutos para o fim da partida, a torcida presente no estádio também demonstrou sua revolta, com violência. Bombas foram atiradas para o gramado e muitos santistas entraram em confronto com a polícia na tentativa de invadir o campo. A situação fez o árbitro encerrar a partida antes dos 90 minutos regulamentares, decretando de vez a eliminação santista.

"No momento de maior caos dentro de campo, vendo brigas, bombas e invasões, eu só pensava que os causadores de tudo aquilo não estavam ali para sentir o medo, o nervosismo, a 'guerra' que eles tinham causado tomando atitudes irresponsáveis e de última hora. Estavam em suas casas, vendo pela TV, talvez tomando um bom vinho, com suas famílias seguras (falo isso porque a minha e as dos outros jogadores e torcedores estavam lá, para apoiar e lutar com a gente). Consigo visualizar 'eles' desligando a TV e indo dormir uma noite tranquila", disparou.

RODRYGO - O sentimento de revolta não foi exclusividade de Victor Ferraz. O jovem Rodrygo, de 17 anos, foi flagrado por um torcedor xingando a Conmebol e seus dirigentes ainda durante a confusão no gramado. Depois, já nos vestiários, chamou o episódio de "vergonha" e considerou que os torcedores santistas "fizeram o certo". Nesta quarta, mais calmo, ele tentou se explicar também através das redes sociais.

"Talvez, a forma como me expressei tenha gerado uma interpretação errada de alguns. De maneira alguma posso concordar com violência. Não defendo tal atitude. Eu quis dizer que me comportaria com muita tristeza e insatisfação pelo que aconteceu dentro e fora de campo. E que vi a torcida fazendo festa antes e durante o jogo, com apoio e confiança na virada, algo que também faria", alegou.

O próprio atacante, porém, admitiu que suas declarações foram infelizes. Já negociado com o Real Madrid, ele explicou que sua frustração foi ainda maior por não saber se vai voltar a disputar uma Libertadores com a camisa do Santos.

"Com a cabeça fria, posso compartilhar um pouco do meu sentimento com vocês. Uma competição que sempre sonhei jogar, sempre assisti aos jogos do Santos, e, logo na minha primeira oportunidade, ser da forma que foi, é lamentável! Às vezes, esqueço que não sou mais aquele menino que podia falar o que pensava, que não teria repercussão, embora eu ainda tenha só 17 anos!", apontou.

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