Clodoaldo foi titular durante a Copa do Mundo de 1970 - Rafael Ribeiro/CBF
Clodoaldo foi titular durante a Copa do Mundo de 1970Rafael Ribeiro/CBF
Por Leonardo Damico
Rio - Há exatos 50 anos, a Seleção Brasileira conquistava o tricampeonato mundial de futebol, o terceiro em 12 anos, consagrando uma geração de craques. No México, a equipe comandada por Mário Jorge Lobo Zagallo realizou campanha impecável ao vencer todas as partidas do torneio e levantar a taça contra a Itália no dia 21 de junho de 1970. O 'Dia' conversou com Clodoaldo, ex-volante que foi titular em todos os jogos da competição.

Poucos meses antes do início do torneio, a equipe, até então treinada por João Saldanha, teve um troca no comando, que passou a ter Zagallo como técnico. Assim que assumiu, o 'Velho Lobo' tomou algumas decisões polêmicas, como a colocação de Pelé no banco de reservas em um amistoso, que colocaram em xeque a força da Seleção para o Mundial. Por vezes, Rivellino afirmou que a equipe viajou desacreditada, opinião diferente de Clodoaldo.

"Mesmo antes do Zagallo, com Saldanha, nós já estávamos fazendo um ótimo trabalho. Particularmente, lá com o grupo, não percebia muita desconfiança. Lógico que tem a tensão, normal, é Copa do Mundo, mas quando o Zagallo assumiu, fez algumas mudanças, um novo quebra-cabeça, e todos gostaram. Começamos a achar que poderia dar certo, e deu. Fora que aquela seleção era fantástica; Jair, Gérson, Tostão, Rivellino e Pelé. Olha esses cinco caras", enalteceu Clodoaldo.

Fase de grupos
O Brasil estreava na Copa do Mundo de 1970 no dia 6 de junho, em partida contra a Tchecoslováquia. Naquela oportunidade, a Seleção goleou por 4 a 1, com gols de Jairzinho (2), Pelé e Rivellino. Quatro dias depois, a equipe de Zagallo bateu a Inglaterra por 1 a 0, com mais um gol do 'Furacão da Copa de 70'. O último jogo foi contra a Romênia, vencido pelo Brasil por 3 a 2. O ex-volante elegeu a partida contra os ingleses como partida mais difícil da Seleção.

"Brasil x Inglaterra foi o jogo da Copa. As duas equipes estavam voando fisicamente, mas nossa qualidade técnica era melhor. Foi o único adversário que nós fizemos apenas um gol, no resto foi tudo três, quatro. Eles nos exigiram demais fisicamente, a ponto de eu perder muito peso. Aos 48 minutos do 2º tempo, eu ainda estava dando pique. Recentemente, o Rei Pelé reviu o jogo e me elogiou, falando que eu fui o melhor em campo. Isso não tem preço", revelou ao 'Dia'.
Seleção Brasileira na Copa de 1970 - Divulgação


Quartas de final
Ainda no formato com 16 equipes, a Copa do Mundo não tinha oitavas de final, então o Brasil avançou às quartas para enfrentar o Peru, do artilheiro Teófilo Cubillas. A Seleção abriu 2 a 0 com menos de 15 minutos, com gols de Rivellino e Tostão, mas Gallardo diminuiu aos 28'. Na etapa final, Tostão marcou de novo, mas Cubillas deixou a diferença em apenas um gol. Aos 30' do segundo tempo, Jairzinho fechou o placar em 4 a 2 para o Brasil.

"Nós tínhamos o domínio daquele jogo, mas não foi fácil, apesar da goleada. Nós administramos bem a partida. Eles acharam dois gols, assim como a Romênia também achou na fase de grupos. Nós tomamos esses gols porque relaxamos, coisa que não fizemos contra a Inglaterra. Acho que um dos grandes pontos da Seleção Brasileira foi a preparação. Jogamos em alto nível todas as partidas, principalmente contra os ingleses, que eram conhecidos pelo porte físico", comentou.

Fantasma na semifinal
Depois de passar por Peru, a Seleção encarou outro adversário sul-americano, dessa vez na semifinal. Fantasma da Copa de 1950, o Uruguai foi o rival do Brasil antes da final. Vinte anos depois do Maracanazzo, a Seleção venceu a partida por 3 a 1 com gols de Clodoaldo, Jairzinho e Rivellino. Luis Cubilla havia aberto o placar para o Uruguai na etapa inicial. O ex-volante relembrou o único gol marcado no torneio e o complicado duelo.

"Contra o Uruguai ainda havia aquele fantasma da Copa de 50, do Maracanazzo. Só se falava disso. Nós falávamos que não iria influenciar, mas influenciou. O primeiro tempo foi complicado, um jogo de muitas faltas duras e eles acabaram saindo na frente. Logo depois, o Gérson chegou em mim e falou 'você tem que sair mais pro jogo'. E deu resultado. Foi uma jogada bem rápida; tabelei com Tostão, e consegui empatar. No segundo tempo, jogamos magnificamente bem e saímos com a vitória", lembrou.

Goleada na decisão
Com dois títulos cada até aquele momento, Brasil e Itália se enfrentaram na decisão. No primeiro tempo, Pelé marcou aos 18' e Boninsegna empatou aos 37'. Contudo, nos últimos 45 minutos, a Seleção deu show e transformou a final em goleada. Aos 21', Gérson colocou o Brasil na frente e Jairzinho marcou o terceiro cinco minutos depois. O último gol foi obra-prima, com grande movimentação coletiva, que começou com belos dribles de Clodoaldo, que relembrou o momento.

"Esse gol tem o desenho da Seleção. Me livrei ali de quatro italianos com uma espécie de balé, pedaladas. Até brinco com Robinho, dizendo que eu sou o verdadeiro 'Rei das pedaladas' (risos). Aqueles dribles desmontaram a marcação da Itália, abriram espaço pra gente avançar, tocando a bola. A jogada facilitou o gol do Capita, que acertou um balaço, coroando o título. Depois desse quarto gol todo mundo começou a se olhar, começamos a chorar e se abraçar", disse o ex-volante, que complementou:

"Esse reconhecimento dos torcedores, da mídia, da CBF, é muito bom, gratificante. É uma data histórica, da consagração de uma grande Seleção. O carinho de todos está à altura daquela equipe. Quero aproveitar para agradecer aquele grupo, foi um privilégio jogar com aquelas feras todas. Quando passar toda essa fase de pandemia, tenho certeza que estaremos todos reunidos para comemorar esse feito. É muito bom poder lembrar que fiz parte daquela conquista", encerrou o ex-atleta de 70 anos.