Daniel AlvesAFP

Espanha - A advogada da mulher que acusou Daniel Alves de agressão sexual criticou a liberdade provisória concedida pela Justiça espanhola ao ex-jogador nesta quarta-feira (20). Apesar da condenação de quatro anos e meio pelo crime, ele poderá deixar a prisão mediante o pagamento de fiança de 1 milhão de euros (cerca de R$ 5,4 milhões, na cotação atual).
"Estou surpresa e indignada. Parece que está sendo feita justiça para os ricos. Disseram que ele tem uma capacidade financeira pequena no momento, mas não tenho dúvidas de que ele receberá o milhão de onde estiver", disse a advogada Ester García à "RAC 1", deixando claro que vai recorrer da decisão.
A fala da advogada é sobre os 1,2 milhão de euros (R$ 6,45 milhões) que Daniel Alves receberá do Fisco da Espanha. A quantia é referente a um processo que o ex-lateral da seleção brasileira venceu, onde discordava da tributação cobrada pelos serviços de intermediação do agente Joaquín Macanás, quando renovou seu contrato com o Barcelona entre 2013 e 2014.

Liberdade provisória

Antes de conseguir a liberdade provisória, Daniel Alves teve cinco pedidos negados pelo Tribunal. A principal alegação para o veto era o alto risco de fuga do brasileiro, devido a seu poder econômico.
Além da fiança de 1 milhão de euros, Daniel Alves terá que seguir outras determinações da Justiça espanhola. Ele está proibido de deixar o país e precisará entregar seus dois passaporte (brasileiro e espanhol), além de comparecer semanalmente ao Tribunal Provincial, com o intuito justamente de amenizar o risco de fuga. O ex-lateral também não poderá ter qualquer contato com a vítima.

Condenação

O Tribunal de Justiça de Barcelona anunciou no dia 22 de fevereiro a condenação de Daniel Alves a quatro anos e meio de prisão, por considerar que foi "comprovado o estupro", e também determinou uma ordem de restrição para que ele não se aproxime da vítima por nove anos. Ele também terá que pagar uma indenização de 150 mil euros (pouco mais de R$ 800 mil).
No julgamento, que aconteceu entre 5 e 7 de fevereiro, a defesa de Daniel Alves havia solicitado a absolvição e, em caso de condenação, havia mencionado o consumo de bebidas alcoólicas como uma das possíveis circunstâncias atenuantes.

Alegação de embriaguez

No terceiro e último dia do julgamento, Daniel Alves voltou a alegar que estava embriagado na noite de 30 de dezembro de 2022, quando ocorreu o estupro. O ex-jogador afirmou que bebeu cerca de duas garrafas de vinho e um copo de uísque, antes de seguir para um bar onde consumiu gin tônica.
"Não sou um homem violento. Não a forcei a praticar sexo oral forçadamente", disse o ex-atleta.
A esposa de Daniel Alves, Joana Sanz, prestou depoimento no segundo dia do julgamento e também afirmou que o ex-jogador tinha bebido muito.
"Ele foi comer com seus amigos no restaurante. Passou o dia aí e voltou era quase 4 (horas) da manhã. Voltou muito bêbado, uma pessoa com muito álcool. Bateu no armário e caiu na cama", disse
As informações foram contestadas pela promotoria, que citou que o acusado "a pegou pelo cabelo com força, forçou a fazer sexo oral, deu tapa na cara, a penetrou por trás e ejaculou dentro e fora". Além disso, também apontou que o brasileiro não estava embriagado e que parecia "normal" através das imagens das câmeras da boate Sutton.

Ausência de lesão vaginal

Especialistas de ambas as partes analisaram as condições da vítima após o ocorrido. Um perito forense da defesa de Daniel Alves alegou que os exames não apontavam nenhuma lesão vaginal e isso provaria que não houve relação forçada entre as partes. No entanto, o médico forense da promotoria afirmou que em um estudo com 500 mulheres, apenas 22% das que haviam feito sexo não consensual tinham lesões vaginais.
"Nesse caso, não encontramos nenhuma lesão, mas não podemos dizer que não tenha nenhuma agressão", disse o especialista.
A psicóloga forense que representa a vítima também explicou o fato da jovem, de 23 anos, não estar tomando remédios para estresse pós-traumático.
"Quando estamos com uma paciente que sofre com sintomas pós-traumáticos tão variados, é alguém que tem a sensação de perder o controle da vida e das emoções. Não estar tomando medicação não significa que não tenha uma síndrome pós-traumática. Muitos não querem tomar para não estarem sob efeito de remédios. Um dos indicadores da condição de vítima é sentir culpa por algo que de fora está claro", disse a profissional.

Mulheres acusam o ex-jogador de apalpá-las

Na mesma noite, outras duas mulheres dizem ter sido tocadas pelo ex-atleta. Segundo uma amiga e uma prima da vítima, Daniel Alves as apalpou e logo em seguida as convidou para a área VIP da boate Sutton, onde ele estava com um amigo.
O fato teria acontecido momentos antes de Daniel levar a mulher que o acusa de estupro ao banheiro da boate. Ambas também confirmaram que o brasileiro teria apresentando um comportamento agressivo naquela noite.

Repercussão

O caso do estupro teve sua primeira repercussão na imprensa espanhola ainda em 2022. No dia 31 de dezembro, o diário ABC revelou que Daniel Alves teria violentado sexualmente uma jovem na casa noturna Sutton no dia anterior. A mulher esteve acompanhada por amigas a todo o instante e a equipe de segurança da casa noturna acionou a polícia, que colheu o depoimento da vítima.
No dia 10 de janeiro, a Justiça espanhola aceitou a denúncia e passou a investigar o jogador brasileiro, que, por muitos anos, defendeu a camisa do Barcelona. Inconsistências nas versões dadas pelo atleta à Justiça, além da possibilidade de fuga do país europeu, fizeram com que a juíza Maria Concepción Canton Martín decretasse a prisão no dia 20 de janeiro de 2023.