Marcelo Bielsa é o treinador da seleção do UruguaiAFP

Estados Unidos - A entrevista coletiva de Marcelo Bielsa, treinador do Uruguai, antes da partida contra o Brasil, que acontece neste sábado (6), às 22h (horário de Brasília), foi repleta de reflexão sobre o futebol sul-americano. O técnico de 68 anos criticou a saída cedo de jovens jogadores do continente para a Europa.
"Você recorda a formação do São Paulo? Com um treinador monumental e uma formação de todos os jogadores de seleção brasileira, todos jogando no futebol local. Vejam o que passou com o pobre futebol sul-americano. Lá jogava Raí, Antonio Carlos, Ronaldo, Cafú, Pintado, Muller, todos jogadores "europeus", mas antes de irem à Europa jogaram duas finais de Copa Libertadores", iniciou Bielsa.
"O que aconteceu com o futebol? Com o futebol, que é propriedade popular essencialmente... Por quê? Os pobres têm muito pouca capacidade de acesso à felicidade porque não dispõem de dinheiro para comprar felicidade. O futebol, como é gratuito, é de origem popular", complementou.
Um dos exemplos dado por Bielsa para criticar a saída cedo dos jovens para o clube europeu foi o do atacante Endrick, do Real Madrid, que será titular na partida contra o Uruguai. O treinador argentino também citou o caso de Estevão, ponta do Palmeiras que está vendido ao Chelsea.
"Esse futebol, que era uma das poucas coisas que os mais pobres mantinham, já não tem mais, porque aos 17 anos, Endricks vão, o "ponta de Palmeiras" (Estevão)... que lástima que eu tenha que dizer hoje algo que só vai me trazer críticas", completou Bielsa.
O treinador também fez uma reflexão sobre o avanço na tecnologia na arbitragem. Segundo Bielsa, essas mudanças fazem com que o futebol fique cada vez mais previsível, e, com isso, menos atrativo para o público geral.
"Parecia que o auxílio da tecnologia nos deixa ainda mais perto para avaliar as conclusões que pareciam irreversíveis. Para mim, isso faz muito dano ao futebol. O jogo tem essa particularidade, na medida que o jogo se torne plenamente previsível cada vez irá perdendo o atrativo. Eu tenho a certeza que o futebol está em um processo decrescente", comentou.
"Cada vez mais gente assiste ao futebol, mas ele fica cada vez menos atrativo. Não se privilegia o que tornou esse jogo o esporte número um do mundo. Ele não protege quem vê. Isso favorece o negócio, o negócio é que muita gente veja o jogo. Mas quando passa o tempo e cada vez os futebolistas que merecem ser olhados sejam menos e cada vez o jogo seja menos agradável, esse aumento artificial dos espectadores vai sofrer um corte. Futebol não é cinco minutos de ação, é muito mais do que isso, é expressão cultural, uma forma de identificação", concluiu o treinador.

Outras respostas de Bielsa

Ausência de Vini Jr mudará estilo de jogo do Uruguai?
"Pessoalmente, creio que não (muda o Uruguai). Brasil é um país que neste momento tem muitos pontas por ambos os lados e jogando em grandes times do mundo em bom nível. O substituto que disponha o rival para resolver a ausência de Vinicius não será uma opção fácil de neutralizar".

Preocupações para o jogo?
"Normalmente, eu me fixo em que setor de campo jogamos, como recuperamos a bola, quando a recuperamos, se criamos perigo, de que modo criamos perigo, o modo como recuperamos a bola e buscamos o ataque, representa o estilo que queremos que tenha a equipe. São essas as avaliações que faço. Em alguns aspectos as conclusões são melhores, em outras há coisas para corrigir. Mas, considerando a quantidade de tempo que há entre jogos para recuperação necessária, as correções são mais verbais ou através de imagens do que em treinos".

Qual a melhor seleção dessa Copa América?
"Há uma equipe revelação que é a que mais cativou com os momentos que produziu, que é a Colômbia, uma seleção que é valorizada por unanimidade. Eles têm muitos atacantes e no futebol isso não é comum, tem mais de uma opção para cada posição, sem grandes diferenças de quem inicia para quem entra, porque jogam nas melhores ligas do mundo e competem com naturalidade. Ou seja, às novidades e ao predomínio do futebol criativo junta-se agora o que é essencial para sobreviver no futebol de hoje"