Formada em educação física pela Uerj, Ana foi contratada pelo Botafogo em julho do ano passado para integrar a comissão técnica e ser a preparadora física do time feminino do Botafogo. Mais nova, como atleta, já havia somado passagem pelas categorias de base do Vasco e da Seleção Brasileira, conquistando um Sul-Americano sub-17. E, após uma série de baixas no elenco principal da equipe alvinegra, ela recebeu convite para voltas aos gramados.
"Uma zagueira nossa teve uma lesão séria no joelho e o clube não tinha dinheiro pra ir ao mercado, então não tinha reserva para a posição. Aí a comissão me pediu para atuar, mas só em caso de necessidade. Mas logo no primeiro jogo, uma outra defensora testou positivo para a covid-19. O treinador ainda tentou improvisar uma lateral na zaga, mas ela acabou se lesionando com cinco minutos de jogo. Aí tive que entrar. Alguma coisa dizia para eu jogar (risos)", explicou Ana.
Estreante contra o Goiás, adversário no qual o Botafogo venceu por 4 a 1, a zagueira ainda atuou mais duas partidas da fase de grupos como titular. Nesta primeira fase, o Alvinegro caiu no que foi classificado por torcedores e jornalistas como 'Grupo da Morte', que tinha clubes como Atlético-MG e Vasco. No entanto, o Botafogo conseguiu bons resultados e acabou se classificando em primeiro do grupo, com 10 pontos.
"O fato de nós termos caído no grupo da morte e começarmos a ter bons resultados, fez com que o nosso grupo tivesse ganhado confiança. Talvez se tivéssemos caído em um grupo mais 'fácil', não chegaríamos onde estamos agora. Inclusive, o Real Brasília e o Atlético-MG, acabaram de ser campeões nos seus estados. Então só valorizou ainda mais nosso trabalho, nós adquirimos mais maturidade. Então quando entramos na fase mata-mata, já estávamos mais cascudas", analisou ao 'Dia'.Após passar pelo Foz Cataratas nas oitavas de final, o Alvinegro encarou o Ceará. De acordo com o jornalista Daniel Braune, que cobre a equipe carioca, o orçamento do Botafogo para o ano no futebol feminino era de apenas R$ 800 mil, enquanto a equipe nordestina tinha um investimento de R$ 4,5 milhões. Mesmo assim, o time de General Severiano conseguiu os resultados e a classificação para a semifinal. Ana comentou estes números.
"Desde o início, a gente sabia que não teríamos um investimento muito grande, para contratar atletas de primeira divisão ou ter uma vasta comissão técnica. Sabendo disso, a gente priorizou por um grupo de atletas muito coeso e comprometido, com um trabalho de comissão impecável. Nós traçamos o nosso objetivo lá atrás, há um ano e meio, com planejamento, que foi recompensado agora. Na pandemia, nós chegamos a ter encontros de videoconferência cinco vezes por semana. Foi tudo fruto do trabalho", disse a zagueira.
Agora, as jogadoras do Botafogo terão um dos adversários mais difíceis pela frente. Invicto no torneio o Bahia, fez uma das melhores campanhas da competição, tem um dos melhores ataques, com 28 gols e a melhor defesa, com apenas dois gols sofridos. O jogo de ida, aqui no Rio, está previsto para o dia 10 de janeiro, enquanto a partida de volta ocorre na Bahia, uma semana depois. Napoli e Real Brasília fazem a outra semifinal da competição.
"Nós sabemos que o Bahia será um adversário duríssimo, como foram todos os outros anteriores. Eu até comentei com o elenco que nossas quartas contra o Ceará poderia ser, tranquilamente, a final, pelo nível dos times e dos confrontos, com todo respeito às outras equipes. Estamos mais maduras e confiantes. Foi um caminho duro até aqui. Nós fomos conquistando os objetivos de pouco a pouco, com pé no chão, e agora vamos com tudo pra tentar ganhar essa taça", encerrou Ana.
HIIIIIIISSSSTÓRICOOOOOOOOOOO! Nossas Gloriosas conseguem o acesso inédito para a elite do futebol feminino! Com o placar agregado de 3x1, o BOTAFOGO vence o Ceará, está classificado para a semifinal do Brasileirão A2 e jogará o Brasileirão A1 em 2021. pic.twitter.com/azawshB9FD
— Botafogo F.R. (@Botafogo) December 21, 2020