Guapimirim é cercado de verde; ao fundo, é possível avistar o Dedo de DeusFoto: Secom PMG - Imagem cedida ao DIA - Arquivo

Guapimirim – O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado nesta quarta-feira, 5 de junho, mas o respeito à natureza precisa ocorrer no decorrer de todo o ano. A data não deveria servir apenas para exaltar belezas naturais e/ou fazer lobby político. As tragédias ambientais que estão acontecendo em várias partes do Brasil e do mundo exigem que a ocasião também seja de reflexão sobre o mundo que vivemos e que queremos para nós mesmos e nossos descendentes, sem clichês e discursos prontos.
O município de Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, tem quase 80% de seu território ocupado por áreas de preservação ambiental municipais, estaduais e federais, com destaques para as mais conhecidas como o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), as áreas de proteção ambiental (APAs) Guapimirim e Petrópolis, todos pertencentes à União, e o Parque Estadual dos Três Picos (PETP), que é estadual.
Em Guapimirim, estão localizados o Dedo de Deus – pico símbolo do montanhismo no Brasil –, o Escalavrado, a Pedra do Sino, o Vale da Lua, a cachoeira Véu da Noiva, entre outros pontos que podem ser usados para praticar esportes radicais, ecoturismo, cicloturismo e turismo rural.
Mas não basta estar rodeado de verde e esperar que a natureza aja por si só. É necessário que haja políticas públicas de preservação ambiental preventiva, como educação ambiental nas escolas, e contra a exploração e o turismo predatório. Exemplo disso é o lixo deixado por banhistas e turistas em cachoeiras de Guapimirim, apesar das placas com avisos para que recolham o lixo e o descartem em local apropriado. Cuidar do meio ambiente não é só uma questão de respeito. É também de civilidade e de educação, e isso deve ser aprendido em casa.
A APA Guapimirim é uma parte da Baía de Guanabara que resiste à degradação humana. Ainda é o lar de golfinhos, caranguejos, colhereiros-rosa, cavalos marinhos, entre outras espécies de animais. No entanto, as previsões são as mais pessimistas possíveis: até o ano de 2050, essa parte da baía poderá estar submersa devido às mudanças climáticas.
Nos últimos anos, a operação Entulho Zero, sob responsabilidade da Prefeitura de Guapimirim, tem contribuído para evitar que ruas do município ficassem inundadas como antes. Periodicamente, o serviço, que é gratuito, recolhe em vias públicas entulhos, sofás velhos e outras bugigangas que poluem o meio ambiente, ao dar um destino mais adequado a esses itens. Além disso, nessa cidade existem programas municipais de recolhimento de óleo de cozinha usado e de lixo eletrônico. Tudo isso só consegue dar certo se houver sintonia entre poder público e sociedade.
Recentemente, uma reportagem da Associated Press (AP), agência internacional de notícias sediada nos Estados Unidos, destacou que a falta de manguezais como os da APA Guapimirim dificultam o escoamento da água no Rio Grande do Sul. Há cerca de dois meses, o estado tem sido afetado por fortes chuvas, com ruas inundadas e que chegam a cinco metros de altura em alguns bairros. As políticas ambientais precisam começar na prevenção.
Falar sobre mudanças climáticas vai muito além de falar sobre temporais, altas temperaturas e derretimento das calotas polares ou quaisquer outros efeitos climáticos. É preciso incluir pessoas e o quanto elas podem ser afetadas – leia-se prejudicadas –, principalmente as mais pobres e/ou em situação de vulnerabilidade social.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, mais de 2,3 milhões de cidadãos gaúchos foram afetados pelas fortes chuvas dos últimos dois meses em 476 municípios. Mais de 35 mil pessoas estão em abrigos e outras 575.171, desalojadas, ou seja, estão vivendo na casa de parentes e amigos. Mais de 12,5 mil animais já foram resgatados desde o início da tragédia.
Em parte da Argentina, do Uruguai, ambos na América do Sul, e da Alemanha, na Europa, por exemplo, as populações locais também têm enfrentando enchentes. No mês passado, a Indonésia registrou chuvas torrenciais, deslizamentos de terra e erupções vulcânicas.
Não se pode confundir degradação ambiental com desenvolvimento econômico e social. No atual momento, o Congresso Nacional discute um projeto de lei que visa retirar da Marinha o controle de praias e permitir que sejam privatizadas. Quais seriam os impactos ambientais, sociais e econômicos? Esse tipo de pauta é favorável a grileiros de terras, a redes hoteleiras e a imobiliárias. Imagine que você, leitor(a), não pudesse mais ficar em determinado ponto da Praia de Copacabana ou de Ipanema, por exemplo, porque ela seria exclusiva para moradores do bairro ou clientes de algum hotel. Note-se que há detrimento entre interesses públicos coletivos e privados. Um conflito de interesses, na verdade, ademais de segregação, o que poderia criar uma espécie de apartheid socioeconômico.
O Dia Mundial do Meio Ambiente foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante uma conferência em Estocolmo, na Suécia, em 1972. Quando se fala de meio ambiente e mudanças climáticas, tanto pobres quanto ricos sofrem os efeitos. Em determinadas situações, a diferença é que estes últimos têm dinheiro para viajar para outros lugares até que eventuais calamidades sejam solucionadas. Quanto aos demais, ficam à mercê da própria sorte e dependendo de ajuda do poder público.