Luciene Marculino mostra a última receita que obteve para o filho, em novembro de 2019 - Arquivo pessoal
Luciene Marculino mostra a última receita que obteve para o filho, em novembro de 2019Arquivo pessoal
Por Jupy Junior
ITAGUAÍ – Não bastasse o sufoco que a pandemia de coronavírus tem provocado, há que se acrescentar mais um transtorno na vida de tantas famílias que precisam manter o tratamento de um filho com deficiência: há mais de um ano não há marcação de consultas na especialidade Neurologia em Itaguaí. Os relatos são os mesmos: ida ao Centro de Especialidades Médicas (Cemes) quando ainda estava no centro (depois, foi deslocado para a Unidade Básica de Saúde em Montserrat), o atendente diz que não tem médico, anotação de telefone do paciente e nada de alguém ligar. A prefeitura não respondeu à reportagem quando vai ter neurologista de novo na cidade.
RELATOS
Luciene Marculino da Silva mora no bairro Ibirapitanga, é mãe de Paulo Henrique, que tem 19 anos. O rapaz tem epilepsia grave, de difícil controle, além de retardo mental. Ele precisa fazer exame de sangue de três em três meses para medir o nível de Depakene (medicamento) no organismo. Luciene precisa de receitas de médico da rede pública para conseguir os remédios do filho de graça na Farmácia Popular, pois são caros. Mas nada de consulta desde novembro de 2019. “Consigo levá-lo no particular porque o pai dele paga plano de saúde, mas de nada adianta a receita se não posso pagar os remédios”, conta ela.
Publicidade
A mãe do paciente esteve na UBS do bairro Califórnia no começo de julho. A atendente anotou o telefone para avisá-la quando voltasse a ter consulta. Até agora, em agosto, nada.
Outra receita de neurologista com data de mais de um ano: ainda sem definição sobre esta especialidade médica em Itaguaí - Arquivo pessoal
Publicidade
Eguimar Dias da Silva Leopoldino é mãe de Carlos Daniel, de 15 anos. Ele tem psoríase crônica e emocional. Desde janeiro deste ano ela tenta marcar uma consulta com o neurologista. Também foi ao Cemes, quando este ainda funcionava no centro, ou seja, antes da pandemia. Carlos se tratava com o doutor José Vinícius, que, ao que tudo indica, não atua mais na cidade. “Desde o ano passado meu filho não vai no neurologista. Ele precisa muito ir porque começou a desenvolver hiperatividade, o que agravou outros problemas de saúde”, explicou Eguimar. Segundo ela, ao atendê-lo pela última vez, o médico aconselhou um tratamento contínuo, o que não está acontecendo. O rapaz toma Repiridona e outros remédios. “Não tenho condições de pagar consulta particular”, lamentou a mãe.
Anna Paula de Albuquerque tenta marcar consulta para o filho João Guilherme, de 16 anos, desde 2018. Ele tem dislexia grave, não consegue ler. Por enquanto, as aulas presenciais estão suspensas, mas quando forem retomadas o problema de João vai se agravar. Isto porque somente com o laudo médico Anna Paula pode solicitar providências especiais à escola para que seu filho possa ser beneficiado com adaptações no seu aprendizado. O adolescente não consegue ler, por isso, tem dificuldades que precisam de atendimento na sala de aula. Sem médico, nada de laudo, nada de adaptações pedagógicas, nada de escola para João. “Assim como eu, há muitas mães”, disse ela.