A relação com Niterói do baterista e percussionista Chico Batera, de 77 anos, começou em Copacabana. Mais precisamente no Beco das Garrafas, na Rua Duvivier, onde, no começo dos anos 1960, um grupo de artistas promovia jam sessions que deram origem a uma nova estética musical: o samba-jazz, a vertente instrumental da bossa nova. Ali, os primeiros a acolhê-lo foram os niteroienses Sérgio Mendes, hoje pianista de renome internacional, e o contrabaixista Tião Neto, que cruzavam a ponte para viver a efervescência cultural da Zona Sul carioca daqueles tempos. Essas e outras histórias fazem parte do depoimento de Chico Batera, gravado em vídeo que a Sala Nelson Pereira dos Santos coloca no ar amanhã, às 20h, em suas redes sociais.
O cineasta Nelson Pereira dos Santos, aliás, que batiza o equipamento cultural de Niterói, situado em São Domingos, era outro morador da cidade que marcava presença no Beco das Garrafas. Pioneiro do Cinema Novo, autor de clássicos como 'Rio, Zona Norte' (1957) e 'Vidas Secas' (1963), ele acompanhava Sérgio Mendes e Tião Neto nas incursões a Copacabana.
"O Sérgio Mendes que me lembrou ao telefone, recentemente, que o Nelson batia ponto por lá. Recordo que os cineastas Glauber Rocha e Leon Hirszman também iam, assim como o pessoal das artes plásticas. Foi uma fase de muita riqueza cultural, que teve fim com o golpe militar de 1964. Os artistas passaram a ser mal vistos e foram reprimidos, o mesmo filme que estamos vendo se repetir hoje", lembra Chico Batera, que tem sete discos solo gravados e inúmeras participações em shows e álbuns de artistas como Elis Regina, Tom Jobim, Chico Buarque, Frank Sinatra, The Doors, Michel Legrand e Ella Fitzgerald.
Na época do Beco, Chico Batera, que foi criado em Madureira, morava na Ilha do Governador. A chegada a Niterói, onde vive há mais de 30 anos, se deu por sugestão do cantor e compositor Djavan, no fim dos anos 1980.
"Na época, eu estava insatisfeito no Rio. Tinha um estúdio em Botafogo e decidi vendê-lo. O Djavan gravava lá e me ofereceu que ficasse num sítio que ele tinha em Itaipuaçu. Disse que eu poderia ficar lá o tempo que quisesse, só precisava pagar o caseiro. Com o dinheiro da venda do estúdio, comprei um terreno e construí a casa em que vivo até hoje, em Itaipu", lembra.
Ainda nos anos 1960 e 1970, Chico Batera fez parte do seleto grupo de músicos que sedimentou a bossa nova no mundo, em shows pelos Estados Unidos e Europa.